terça-feira, 6 de outubro de 2009

Qualquer outra espécie de dor.



“(...)
Fosse amor ou desamor
Ou qualquer outra espécie de dor
Eu quero mais ser imortal,
Quero ser o meu futuro ancestral
Quero mais tabacaria,
Mais pessoa, mais Maria,

Mais vinho, mais poesia”.

Não gosto de vinho. Não fumo. Mas queria que minha vida fosse recheada dessas coisas, no sentido mais puro que isso possa parecer. Não desejo passar a fumar, ou a tomar vinho, mas estar, fazer acontecer situações onde se possa tomar um vinho em paz, ou fumar um cigarrinho em paz, conversando com seus amigos, no seu apartamentinho minúsculo, porém SEU, com a sua cara. Uma boa música tocando, um bom incenso aceso, livros espalhados pela sala. Pra começar, estamos na sala. Eu, o poço, e alguns que imaginei. Sei bem quem são. Então, eu falo uma poesia de Dona Sophia, outro rebate com Pessoa, um terceiro fala a letra de uma canção, um quarto dá uma forte gargalhada, e serve as taças vazias com mais um pouco de vinho, tinto. Eu, fico na água, em temperatura natural. O disco acabou, me levanto, e coloco pra tocar um disco antigo, da minha querida Dolores. Primeiros acordes, e...”hoje, eu quero a rosa mais linda que houver, e a primeira estrela que vier, para enfeitar a noite do meu bem”. Sentimos o primeiro minuto da canção, belíssima. O telefone tocou, um instante. (era seu namorado, avisando que está chegando com uns queijinhos) Ele sabe que você ama queijo. Estão completamente apaixonados um pelo outro. Já estão juntos há quatro meses. Pode parecer pouco, mas pra nós, intensos, já é um longo período. A luz está baixa, é noite de lua nova, abençoando os namorados. Ela nos ilumina, e então a reverenciamos, “Nossa Senhora do Silêncio”. O queijo que ele trouxe está uma delícia, todos partilham disso. De repente o poço se levanta num rompante, e começa a falar aquele poema que você ama, “Passagem das horas”, e você delira. Falam juntos, riem, estão felizes, são felizes. Se amam também. Aquela energia boa toma conta da sala, como uma droga quando faz seu efeito. Todos se drogam, só que de amor, de intensidade, de luz, de paixão ardente, de encantamento. Riem, falam, gargalham, se abraçam, se beijam, transcendem. São únicos em sua beleza, e só.

Não quero cortar esse momento, porém paro aqui, preenchido por essa sensação. Preciso disso, vou ter isso. Repito, vou ter isso.

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