sábado, 31 de janeiro de 2009

A visita ao Opô Afonjá.



Viajei à Salvador destinado a conhecer determinados lugares, e um deles era o Opô Afonjá. Minha vontade inicialmente era passar o dia lá, batendo papo com os mais velhos, colhendo informações, tirando fotos, respirando a atmosfera daquele lugar abençoado. Numa terça-feira de sol, dia 20 de janeiro de 2009, lá ia eu, as oito da manhã em direção ao Cabula, mais precisamente ao bairro de São Gonçalo do Retiro. Cheguei lá de carro, acompanhado de dois tios e um primo. Entramos na tal Rua de São Gonçalo do Retiro e começamos a procurar o lugar. Quando avistamos uma plaquinha linda de azulejos azuis e brancos escrito o número 557 já era tarde, havíamos passado direto. Mas nada mal, era só voltar, e foi o que fizemos. Entramos com o carro no terreiro, após dar um alô pro guarda que se encontrava na porta. Minha felicidade era tamanha em estar naquele lugar tão lindo, tal e qual eu via nas fotos de Verger. Saltamos do carro, e eu já com a máquina preparada. Mal sabia que ia sair dali com somente cinco ou seis fotos tiradas. Fomos andando pelo chão batido, de barro puro, em direção à Casa de Xangô, que era a primeira por onde passaríamos. Era uma casa toda revestida de pedras grandes, dispostas de forma irregular. Haviam umas pilastras na cor vermelha, a cor do orixá. Perto de uma das portas havia ainda uma imagem simbólica de Xangô em tamanho real de uma pessoa, linda por sinal. O teto da varanda era cheio de bandeirinhas, típicas de um terreiro de candomblé. Nas duas janelas havia uma inscrição que dizia o seguinte: “Opô Afonjá 1910”, naturalmente, suponho eu, o ano da abertura do terreiro. Ao lado de uma das portas, que estava fechada, escrito estava o nome do dono da casa, em pedras, parecia, meio envelhecidas. Nas duas portas da casa havia ainda o mariwó, folha do dendezeiro, que segundo li em algum lugar, protege contra os possíveis eguns que possam se aproximar. Pela lateral veio uma mulher, baixa, de cabelos enrolados, falar conosco. Meu tio então me intercedeu, e disse que queríamos visitar o lugar, que eu gostaria muito de conhecer as pessoas, de conversar com elas. Eu logo disse o mesmo. Para meu espanto, fomos recebidos muito cordialmente por essa mulher, que mais tarde saberia seu nome: Carmem. Ela então nos perguntou se já havíamos falado com Mãe Stella, e eu lhe disse que não. Nos disse pra conhecermos o museu que havia mais pra trás, e a lojinha. Fui então na lojinha, começamos a conversar um pouco, e lhe disse que havia lido recentemente o livro de Mãe Senhora. Para meu espanto, ela me disse que havia ainda o livro de Mãe Aninha, e que estava à venda lá. Claro, tratei de comprar meu exemplar. Depois nos encaminhamos ao museu, que ficava a uns cinqüenta metros dali. Após perguntar qual seria a porta certa, chamei por alguém e logo fui recebido também muito cordialmente por uma mulher, negra, de cabelos presos. Ela então abriu as portas do lugar, e nos convidou a entrar. Começamos a conversar, e fui informado que poderia colocar meus pertences num cabideiro que havia na entrada, para que assim pudéssemos conhecer o museu mais livremente. Perguntei-lhe se poderia fotografar, e ela me disse que não, para minha pequena tristeza. Porém, respeitei a ordem. Começamos a visita pelos tronos das mães-de-santo anteriores, a começar por Mãe Aninha. Seu trono era de madeira escura, como ela disse, com símbolos católicos inscritos no encosto. Depois passamos para o trono de Mãe Senhora. Este já era de vime claro, com estofado estampado, lindíssimo por sinal. Tal e qual via nas fotos de Verger. Logo após vimos o trono de sua sucessora, que não me recordo muito bem como era. Então a mulher, que até hoje não sei seu nome, foi mostrando o restante das peças, entre elas objetos rituais de todas as mães-de-santo do terreiro, suas roupas, a de seus orixás, quando vinham em terra para dançar, e outras coisas mais. Minha emoção era enorme. Vimos os três atabaques da época de Mãe Aninha, todos brancos, postos em bancos, para não entrar em contato com o chão. Entramos na sala azul, a de Oxóssi, segundo ela, que era um lugar especial para Mãe Stella. Lá haviam uns inscritos, roupas, fotos, livros publicados por Mãe Stela, e objetos rituais. A visita acabou, e ainda ficamos conversando um pouco. Ela falava de um modo muito rápido, e acabei perdendo algumas informações. Então agradeci muito a sua simpatia, e saímos do museu. Não sei por que, talvez por estar tão emocionado, fomos nos encaminhando pra ir embora, e eu não tirei mais fotos, foram poucas ao todo. Passamos por Carmem, e ela me perguntou quando iria embora. A respondi, e fui informado que no dia seguinte seria realizado um amalá pra Xangô, o patrono da Casa. Dei quase certeza que iria, afinal seria uma oportunidade única. Fomos pra casa então, e tinha ganhado o dia, me arrisco a falar, a viagem! Fui matutando quem poderia ir comigo no dia seguinte, só que não havia ninguém para ir. Pensei, pensei, e perdendo o medo, resolvi ir sozinho. No dia seguinte então, acordei novamente às sete da manhã, e parti rumo a roça de São Gonçalo. Mil pensamentos, do que poderia acontecer lá dentro, um misto de medo e emoção tremenda me preenchia. Chegamos no terreiro, eu e meu tio, e ele foi embora. Fiquei lá sozinho então. Fui me encaminhando para Casa de Xangô, e perguntei a um senhor de meia idade, negro, filho de santo da casa, ou se tem outro cargo não sei, onde seria o tal amalá. Fui respondido que seria ali mesmo, na Sua Casa, e que já poderia entrar. Fui me aproximando da casa, e chegando a porta percebi que já havia uma movimentação intensa de filhos e filhas de santo preparando tudo, e que lá dentro já esperavam algumas pessoas, que seriam atendidas por Mãe Stela. A sala da Casa de Xangô era relativamente pequena, com um sofá vermelho, outra poltrona vermelha, umas cadeiras de plástico branco, um suporte de madeira com uns vasos de cerâmica. Nas paredes, pendurados, alguns quadros com fotos das mães de santo anteriores, com destaque para um grande quadro com a foto de Mãe Aninha. No teto, uma lâmpada branca, fria. Prostrei-me perto da porta, quase no meio do caminho, mas preferi ficar ali dentro, pra poder ver de perto tudo que acontecia. Eu só observava aquilo tudo, encantado. Uma filha de santo, vestida como tal, organizava a ordem de entrada no outro cômodo onde se encontrava Mãe Stella. Achei curioso seu modo de se dirigir às pessoas. Ela andava de forma muito contida, de cabeça baixa, de modo tranqüilo, bem devagar. De vez em quando ia a cada uma das pessoas presentes e perguntava se a pessoa em questão estava esperando a sua vez para a consulta ou se havia ido para o amalá. Ela então veio até mim, me perguntou se eu estava esperando minha vez do jogo, e eu lhe disse que não, que só havia ido para assistir o amalá. Antes disso, enquanto estava em pé ao lado da porta, uma moça, aparentemente de uns 29 anos veio puxar assunto comigo. Perguntou-me se eu fazia teatro, lhe disse que sim. E ela perguntou: “De rua?”, respondi que não. Então começamos a conversar, lhe perguntei o que aconteceria no tal amalá, ela foi me explicando, e ficamos batendo papo durante um tempinho. Depois uma filha de santo da casa me cedeu uma cadeira de plástico branco, e então fui me sentar, do outro lado da sala, perto da porta da cozinha. Atrás de mim havia um cabideiro, que ninguém chegou a usar.
Estava eu a observar aquela movimentação intensa, quando de repente ouço um barulho estranho, como se fosse um gato, bem manso, chorando. Um choro, de algo ou alguém, parecia. Logo imaginei que seria alguém incorporando um orixá. Mais ou menos um minuto depois passa por mim uma jovem mulher, com um pano da costa amarelo amarrado no peito, incorporada de Oxum. Ela estava com os pés descalços, com as mãos viradas pra trás, e de olhos fechados. Todos na sala levantaram as mãos, e a saudaram: Ora ieie ô. Eu fiz o mesmo, mentalmente, com vergonha de ser visto. Ela, ao passar pela porta, se virou, para passar de costas, e por cinco segundos gelei, pensando que o orixá presente fosse me abraçar. Ela então se encaminhou para a porta do altar, se não me engano. Acho que saudou Xangô, e depois foi para a porta de saída, se virou novamente, e saiu. Criou-se uma movimentação maior lá dentro, e todos se perguntavam quem iria despachar o orixá. Ouvi uma filha de santo, aparentemente antiga, falando que aquilo não era responsabilidade dela, e que não ia fazer nada, pois estava sem paciência. Não entendi muito bem, mas continuei observando. O pequeno stresse passou, e todos na sala voltaram a conversar normalmente. Logo a porta da outra sala se abriu, um ser iluminado apareceu sob a porta. Era Mãe Stella, linda, de saia rodada branca, e camisa larga azul clarinho. Cabelos destampados, e brancos devido à idade. Ela saiu da salinha onde se encontrava, e todos automaticamente na sala se acomodaram nas cadeiras e sofás, pararam de conversar e se prostraram em silêncio, em sinal de respeito a grande mãe. Rapidamente uma mulher que esperava na sala maior levantou-se e foi lhe pedir a benção, beijando-lhe a mão. Mãe Stella lhe disse algo, e a cumprimentou, e pelo que eu entendi, a tal moça era parente do rapaz que acabara de se consultar com ela. Eles sorriram um pouco, Mãe Stella também, trocaram algumas palavras, e a grande mãe se dirigiu à cozinha, acho que para beber um copo d’água e descansar um pouco. Umas outras pessoas então, percebendo a saída de Mãe Stella foram até a cozinha cumprimentá-la. À toda hora, filhos e filhas-de-santo iam até a porta onde estava Mãe Stella, para pedir-lhe a benção, ou lhe dar um recado, pedir um conselho, mas eram sempre embarreirados pela “secretária” cabisbaixa. Mãe Stella voltou para a salinha, para dar prosseguimento as consultas e logo depois saiu, dizendo que era chegada a hora de começar o amalá. Criou-se então uma movimentação intensa de pessoas saindo e entrando da casa, na cozinha, no tal quartinho. Vi que as pessoas que estavam esperando foram se encaminhando para a outra salinha e fui atrás. Logo depois umas filhas de santo passaram com o caruru e as comidas nos ombros, em potes de madeira, típicos de candomblé. Perguntei então a amiga que fiz lá o que faríamos, e fui informado para segui-la. E assim fiz. Entrei para a outra salinha, e me coloquei no final da fila que automaticamente se formou, atrás da minha conhecida. As pessoas foram entrando, entrando, entupindo a sala pequena. As comidas foram colocadas no altar de Xangô, e alguém, que não consegui enxergar quem, começou a puxar um cântico em yorubá e a bater palmas leves. Todos a seguiram cantando e batendo as palmas leves. Eu só batia as palmas, já que não conhecia o tal cântico. O primeiro cântico acabou, e foi puxado outro. Esse outro havia sido um dos primeiros cânticos que conheci quando me interessei por candomblé. Pra minha alegria, eu podia cantar com eles, os acompanhando. Minha emoção era tremenda. Estava em êxtase. A tudo observava com atenção. Claro, muita coisa eu perdi, pois estava posicionado no finalzinho da fila, no fundo da sala. Foi me dando um medo do que poderia acontecer, afinal estava sozinho e não conhecia ninguém ali, a não ser a minha amiga que acabara de conhecer não fazia nem uma hora. As pessoas foram incorporando diversos orixás, e cada um era saudado pelos filhos e filhas de santo. Veio Xangô, Iemanjá, Iansã, dançando como sempre imitei e sonhei em ver, Oxum, se não me engano, e algum outro que não soube reconhecer. Era um lindo espetáculo. Eu estava emocionado. Os orixás dançaram um pouco, Iansã ia lá fora dar seu ilá, lindo por sinal, e todos vibravam com a energia deles. Depois eles foram saindo, às vezes voltavam, já com panos amarrados no peito e na cabeça, e logo sumiram. Apenas Iansã era ouvida, lá fora. A fila foi andando, e aos poucos as pessoas foram deitando no chão, dando o dobale e o iká, saudando Xangô, saudando Mãe Stella e a uma senhora curiosa que se encontrava ao lado da grande mãe. A moça do museu chegou, eu a cutuquei, e ela fez um gesto carinhoso falando comigo. Minha vez estava chegando, e eu nervoso com o que poderia acontecer dali pra frente, resolvi cutucar minha amiga e lhe perguntar o que fazer. Ela então me disse para observá-la e repetir o que fizesse. Ela então foi lá, o saudou, saudou a grande mãe, me fez um sinal e saiu. Os sapatos eu havia deixado lá fora, e a bolsa deixei em cima de um baú, com um nó para que não abrisse. Minha vez chegou, e eu perguntei a uma antiga filha de santo da casa se poderia ir. Dei uns passos, me prostrei em frente ao altar, me deitei no chão, coloquei as mãos pra trás, encostei a testa no chão, e o saudei, em silêncio, só falando mentalmente: Kawô Kabiesile! Minha emoção era tremenda, que pude sentir sua força, eu acho. Sei que senti uma coisa, que não sei explicar, que nunca havia sentido. Uma força no peito, na cabeça, uma sensação boa, que me lavou os males. Enquanto me deitava, ouvi uma pessoa atrás de mim falar o seguinte, para a minha vergonha: “É a primeira vez que ele vem né?!”. Franzi a testa no momento, mas continuei. Algumas pessoas colocavam um dinheiro, pouco, num pote de madeira, mas eu não coloquei. Outras se prostravam pra frente, em direção ao altar, para o lado esquerdo, e depois para o direito. Eu, na minha humilde ignorância apenas me prostrei para frente. Depois disso, me virei, e fiz o mesmo gesto, me deitando, em frente à Mãe Stella. Peguei sua mão, a beijei, e ela me disse algo do tipo: “Deus te abençoe”. Foi o que eu entendi. Mas a achei um pouco desinteressada naquilo, disse isso a mim enquanto falava com outra pessoa do seu lado, não dando muita importância àquilo que estava fazendo. Mas enfim, me senti ainda honrado de ter podido participar daquele ritual tão lindo. Então, voltei para a fila, peguei minha bolsa, e saí, de cabeça baixa. Calcei minhas sandálias, já fora da sala pequena. As pessoas na sala maior já comiam o caruru, a comida oferecida ao orixá. Dirigi-me a minha amiga, a que fiz lá, e lhe perguntei se eu poderia ir embora, já que não gosto de quiabo, o principal ingrediente do caruru. Ela me perguntou se eu não ficaria pro caruru, lhe disse que não, ela me disse que gostaria de comer, mas que se eu quisesse mesmo ir que poderia. Agradeci-lhe por toda a ajuda, e fui saindo da sala, maravilhado com tudo que havia acontecido. Liguei pro meu tio, para que ele fosse me buscar, e me dirigi à saída. Fiquei esperando durante uma meia hora. E enquanto esperava, uma sede me bateu. Vi que algumas pessoas estavam comendo sacolés de frutas, e pra minha alegria, estavam a venda. Fui lá comprar um, e aproveitei e falei com a Carmem, que estava na porta da lojinha. A agradeci também pela recepção, e falei que estava completamente encantado, adorando tudo. Ela me falou do calendário das festas, e peguei o telefone do terreiro, para saber com mais detalhes, as datas e tudo mais, caso quisesse voltar um dia. Encaminhei-me então em direção a porta de saída, e tirei a ultima foto, de longe, admirando a beleza do lugar. Contei para todo mundo minha experiência, e fui pra casa maravilhado, o que me fez perder certos medos, e ter um dia lindo, num outro lugar tão lindo quanto. Comecei o ano abençoado por Xangô e por Mãe Stella, e agradeço muito a esse fato.
Foi um dia incrível, uma experiência fabulosa, que me fez admirar ainda mais essa linda religião. Salve Xangô, o patrono da Casa. Salve o Opô Afonjá, lugar abençoado. Salve Mãe Stella, ser de luz. E salve esse dia, onde fui muito feliz.

Mais um pedaço de mim.



Tenho o hábito de escrever palavras soltas no ar, e por sinal, a palavra que eu mais escrevo é “amor”. Por coincidência ou não, a coisa que eu mais sinto falta na vida é de um amor. Um amor verdadeiro, recíproco, o que é importante. Ouço músicas consideradas exóticas pra uns. E isso faz com que eu me sinta só, pois não conheço absolutamente ninguém que goste das mesmas músicas que eu. O país que eu mais sonho em ir ninguém conhece, ninguém nunca ouviu falar. Minha cor preferida é marrom, e não conheço ninguém que goste também dessa cor. Odeio cabelo liso, sou contra “escovas” do momento, contra o padrão de beleza estabelecido pela sociedade. Acho que penso assim por não fazer parte dele, e gostar de ser assim. Porém em partes. Não gosto de coxas grossas, nem pra homens nem pra mulheres. Mulheres de bundão e peitão também nem pensar.
Antipático, exótico, anormal, doente, louco, esses são alguns dos estigmas que me pertencem. Se eu sou ou não, isso não importa a ninguém. Sei que sou único. Não é porque a massa gosta de “A” que vou gostar também. Devo nadar contra a corrente. E prefiro ser assim, diferente, do que ser mais um perdido na multidão medíocre.

O que aconteceu foi intenso.



Foi intenso. Eu encostei meus lábios nos dele, nossas línguas se roçaram uma na outra, e a sensação foi de puro prazer. Eu lambi seus peitos, lambi sua barriga, olhava e desejava seu corpo inteiro. Depois fui descendo, seu umbigo. Desci mais um pouco, e encontrei seu membro ereto, como pedra, fervendo, vermelho cor de sangue. Era puro sangue. Éramos amigos, e nos beijávamos muito. Lambi aquele negócio por inteiro, e ouvi gemidos vindos dele. Isso tudo aconteceu e eu estava de olhos fechados. De repente os abri, estava ofegante e molhado de suor. Pra minha total infelicidade, aquilo não tinha passado de um sonho, mais um. Sonhos sempre.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Um pedaço de mim.



Antes de dormir eu canto, sozinho, olhando pro nada. Também recito poemas, quase sempre os mesmos, os que estão na minha cabeça. Sorrio, às vezes choro, falo sozinho, converso com Deus, comigo mesmo. Me dou broncas, esporros, elogios, puxões de orelha. Olho meu corpo, analiso, às vezes me masturbo. Ouço música o dia todo. Pinto e escrevo quando tenho inspiração. Fico observando meu quarto, minhas coisas. Leio muito, as vezes o mesmo livro varias vezes. Durmo do lado dos meus livros, gosto de sentir a presença deles, o cheiro deles. Sempre pego um que já li e folheio, leio trechos de novo. Acendo incensos o dia todo, e sempre tem uma fumaça restante pairando no meu quarto. Penso muito na vida, e acho que a vida pensa em mim. Acredito em Deus, que exista uma força maior que comanda tudo isso aqui. Tenho afeição pelos orixás e por Nossa Senhora Aparecida. Tenho muitos medos. Medo de morrer, da solidão, de ficar sozinho, de escuro, de barata, de rato tenho pavor. Medo ainda de não fazer mais terapia, de cair de um lugar alto, de altura, de dormir.
Esse é um pedaço de mim.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Enfim, a viagem.



Enfim é chegado o dia da tão esperada viagem. Realizarei sonhos, como o de percorrer os caminhos por onde andou pai Fatumbí, se possível conhecer Mãe Stella, Mãe Carmem, conhecer o Opô Afonjá, o Gantois, a Casa Branca, as vielas da "boa terra", a Sua casa, e tantos outros lugares abençoados. E viajando com minha irmã, o que já representa um belo início de amizade e aproximação. Animado, ansioso, nervoso, esperançoso é tudo que estou!
À benção Bahia, aqui começa minha viagem!

sábado, 3 de janeiro de 2009

O tal no Ano Novo.



São 0:22 do dia 1 de janeiro de 2009, e estou aqui escrevendo. Ao invés de estar comemorando com a família, com os amigos, seja na praia, em casa ou em qualquer lugar, estou aqui, chorando e escrevendo. Choro por sentir ódio no meu coração, por ser tão amargo com certas pessoas, por não perdoá-las por certos erros. Choro por não conseguir confraternizar com minha família, por não ter meus amigos por perto. Por ter quase certeza que esse ano tudo vai continuar da mesma forma, e tudo vai depender de uma única pessoa: eu mesmo. Quero chorar, mas não me saem mais lágrimas dos meus olhos. Mas por dentro eu choro. Por querer um amor, e não encontrar. Por parecer infeliz, e achar que sou infeliz. Por ter tudo e não usufruir e dar valor à quase nada. Por ter vergonha de demonstrar minha felicidade à minha família. Por não ter um companheiro. Pelo fato dos meus amigos ainda não terem ligado, e achar que eles não vão ligar mesmo, já que estão lá, com seus amigos, festejando o ano que chega. Choro por não saber o porquê do meu choro, em certos momentos. Choro por à essa hora estar aqui escrevendo, ao invés de estar com minha família, com os amigos. Choro por me sentir tão só. Choro por enxergar que eles só dão carinho pro dos outros, e pros deles não. Por enxergar certas coisas, e não ter como mudá-las. Choro porque preciso chorar. Porque poderia muito bem ser feliz com o que tenho, e no entanto não sou. Choro por querer ficar sozinho, recolhido, em pleno Ano Novo, data onde as pessoas costumam se reunir. Choro porque quero também. Apenas choro e desejo ficar sozinho, hoje.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Duas visitas inesperadas.



Hoje ele nos visitou. Fazia um bom tempo que ele não vinha. Eu lhe dei seu chapéu, o que ele gosta, e sua chupeta, que estava guardada com a menina dele. Foi sua alegria, pulou e gritou. Ele veio até mim, e me disse que tinha vindo pra me proteger nesse ano que chega. Me deu 4 balas, e pediu que eu fizesse um pedido para cada uma. Depois me disse que quando quisesse alguma coisa, quando precisasse era só pensar nele, três vezes, que ele iria me ajudar. E assim será feito. Depois ele anunciou sua partida e se foi, pro imaginário, pro além, pro mundo dele. Salve Pedrinho!
Dali a pouco, vem Ela! Salve! Ela chegou em mim e disse que eu era a atração da festa hoje. Eu a perguntei se podia ir naqueles lugares sem problemas. Sua resposta foi: "Pode, mas muito cuidado". Pediu uma rosa vermelha bem bonita, e cerveja, que eu pusesse no seu lugar. Dona Maria Padilha da Estrada.

Prefiro ficar sozinho.



É dia primeiro de janeiro do novo ano, e à essa altura prefiro ficar sozinho no meu quarto, do que ficar "confraternizando" com certas pessoas. Acendi meu melhor incenso, o mais cheiroso, e o mais caro, coloquei minhas músicas atualmente preferidas, terminei de ler o restinho do livro da Danuza, e aqui estou, escrevendo de novo. Gosto de ficar imerso na fumaça, gosto de ficar observando a fumaça que sai do incenso, principalmente quando ela é abundante, como nesse que acendi há pouco. Hoje fomos colocar flores na praia, como de costume. Há anos que temos esse hábito, de oferecer um agrado à senhora dos mares profundos. Fiz vários pedidos, entre eles muita sorte, um pouco de dinheiro, sorte na 'profissão', que as coisas melhorem aqui em casa, que nossa relação fique mais afetuosa, e o mais importante deles: que ela me traga um amor, mas um amor daqueles! Um amor que me preencha, que me deixe feliz, que me faça feliz, e que me preparem pra receber esse amor também, o que é importante. Só pedi coisas pra mim, os outros que peçam pra eles. Enfeitei meu quarto com uma flor que desconheço o nome, linda por sinal. Um arranjo simples, apenas um vasinho de vidro branco, um pouco d'água e elas, no total de cinco. Só.
Arrumei minha mesa do computador, minha 'mesa' de cabeceira, e minha cesta africana. Continuei a reler o livro, depois tomei um banho, e me arrumei. Coloquei roupas novas, vestindo amarelo, verde, com um chinelo cor de laranja. Bem colorido, como quero que seja esse ano pra mim. Desci, cumprimentei minhas avós, e sentei. De lá só saí pra ir ao banheiro, e pra comer e beber. Nada falei, a não ser um papo rápido e baixo com as avós. Tive de aturar aquele povo insuportável, e sua prole. Mas aguentei até meia-noite. Deu a hora, estouramos o champagne, cumprimentei levemente as pessoas, inclusive os insuportáveis, e subi discretamente. Vim ao meu quarto, e comecei a chorar, por tudo aquilo. Fiz alguns telefonemas, porém sem sucesso em todos. Não consegui falar com ninguém, e todos que falaram que iam ligar não ligaram. Nenhum amigo me ligou. Depois dei uma descida, vi que o ar continuava ruim e tornei a subir, e agora estou aqui, imerso na fumaça cheirosa, e trancado no porto seguro, ouvindo música boa, porque a de lá de baixo era igualmente insurpotável. Triste, assim me sinto, de não conseguir confraternizar com minha família a chegada do novo ano. Mas vai melhorar, ainda tenho esperanças. Como dizem, elas são as últimas a morrer.
Minha única opção para sair de casa é aquele lugar que sempre freqüento. Mas hoje não estou com um pingo de vontade de dar as caras por lá. Não quero me "sujar", e nem me irritar com aquelas pessoas. Daqui a pouco devo dormir, e começar a viver as primeiras horas de 2009.
Esse foi meu 'Ano Novo'. Super legal.