sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A ausência do poço.



Faz tempo que não visito o poço encantado. Não o vejo, nem jogo uma pedrinha, não falo com ele, não o toco, nem sinto seu cheiro. Mas é certo que outros o visitem, assim ele nunca fica sozinho. Para falar a verdade ando meio afastado dele, e não sei porquê. O amor e o carinho que eu sinto por aquele poço é tão grande que transcende qualquer distância, qualquer telefonema não vingado, qualquer visita não feita, e a ausência. Ah, a ausência...
Sinto muito a falta dele, mas acredito (prefiro acreditar) que ele também sente a minha. Vejo que ele vive cheio de água, de emoções, de pessoas em volta, de amigos, de encontros, saídas, e afins. Mas a minha companhia tem sido escassa. Uma pena, já que o amo tanto.
Andei pensando, e acho que hoje vou lhe fazer uma visitinha. Fui numa loja de essências e comprei um vidrinho de essência de jasmim, para jogar em seu interior e perfumá-lo. Comprei lindas flores, das mais variadas, e vou deitá-las ao seu lado. Encontrei em meio aos meus livros de poesia, um poema lindo chamado “A ausente”, de autoria do saudoso Vinícius de Morais, e irei recitar pra ele.
Ele diz:

“Amiga, infinitamente amiga
Em algum lugar teu coração bate por mim
Em algum lugar teus olhos se fecham à idéia dos meus
Em algum lugar tuas mãos se crispam, (...)
Tu desfaleces e caminhas, como que cega ao meu encontro...
Amiga, última doçura
A tranqüilidade suavizou a minha pele
E os meus cabelos. (...)
Vem, amiga
(...)
Vem mergulhar em mim
Como no mar, vem nadar em mim como no mar
Vem te afogar em mim, amiga minha
Em mim como no mar...”

A possível conotação sexual do poema inexiste nessa situação. Só sinto um enorme carinho e amor de irmão pelo poço (por ela).
Será que ele vai me receber bem nessa visita de hoje? Será que ainda vamos ter papo um com o outro? Espero que sim, espero muito que sim.
Ele é muito precioso para perdê-lo de vista assim tão fácil. Não perco mesmo.
Te amo, meu poço querido. Me banhe com tuas águas claras e puras. Me emocione, me inspire, me lave a alma toda vez que precisar.
Estarei sempre te olhando de longe. Ou de perto, se você deixar.
Me espera, já estou chegando.

(para Si, minha doce poetisa, irmã de alma).

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Quando o poeta ama.



Eu te amo até o dia em que eu for na Lua.
Eu te amo até o dia em que o Sol morrer, e não mais brilhar.
Eu te amo como a uma flor, desabrochada, linda.
Tenho insônia só de pensar em ti, daí ouço uma música, acendo um incenso, e durmo como se estivesse abraçado a você.
Te amo até meus dias acabarem, meu ar faltar, minha fala acabar, meu sexo murchar, e minha vida se esvair.
Até o dia em que a Terra parar de rodar, entrar em choque com o Universo, e eu gritarei seu nome em meio a uma praça lotada de pessoas com medo do que estará acontecendo.
Eu te amo ouvindo Dolores, Maysa, a abelha rainha, sempre.
Sabe sempre? Então, eu te amo assim, para ele (ou ela).
Te amo até quando formos uma estrela, brilhando no céu, lado a lado.
Até quando jogarem pétalas de rosa branca sobre o meu corpo, imóvel e inativo.
Amo profundamente você, sua beleza, seus cabelos, suas mãos que me tocam, sua pele macia, sua boca, seu corpo, seu colo.
Seu olhar de ‘ternura antiga’, naquela rua escura, no vento frio.
Te amo até o dia em que vamos encontrar a estrada do Sol, e vamos caminhar rumo à ele, a estrela maior.
Te amo ouvindo Yann, um pianinho baixinho, ou um samba-canção do Caymmi.
Abro a janela do meu coração e só vejo sua figura, olhando pra mim, sorrindo, e me chamando: “Vem, me dá a mão...”
Então eu vou até o seu encontro, te beijo, te cheiro, sinto tua pele sedosa, macia, encostando na minha.
Em você eu me encontro, me satisfaço, me lambuzo, me encho de prazer.
Eu te amo quando os sinos tocam. Quando transamos à beira mar, na areia pura, naquela praia distante de tudo.
Te amo recitando Pessoa, Dona Sophia, Clarice, sabendo de muita coisa que vimos juntos.
Te amo agora, neste exato momento. Te amo porque você acabou de me ligar, dizendo que chegou bem em casa, e que agora vai dormir pensando em mim.
Eu te amo do tamanho de uma vida longa, cheia de prazeres.
Amo ser amado também por você.
Sentar do seu lado, numa manhã de sol brando, num banco de praia, e ficar admirando a beleza e a grandeza do mar azul. Fitar o Atlântico.
Por você eu atravessaria o Atlântico num bote à remo. E encontraria você do outro lado do continente, sob a pele nua, em cima de uma pedra bem alta.
Lá faríamos amor, juras, promessas.
Te amo tanto que me faltam palavras, mas tento prosseguir.
Só você cura minha insônia, quando nos falamos à noite.
Só você me diz coisas bonitas o tempo todo, e eu acredito em tudo.
Lembra do dia que você me olhou carinhosamente, naquele deserto de Sal, sem nada nem ninguém, e me disse: “Eu te amo do tamanho disso aqui”, lembra? Aquele foi um dos dias mais felizes da minha vida.
Tanto que peguei um pouquinho do sal onde estávamos pisando e guardei num vidrinho. Guardo-o com o maior carinho do mundo.
Nossa, lembra aquele outro dia em que o beija-flor que passava por nós pousou no seu dedo indicador, e bateu suas asinhas sem parar, rápido demais, lembra? Então, meu coração bate assim quando te vê.
Até depois que ele não bater mais, eu vou continuar te amando.
Você me ensinou a magia de viver intensamente, como se hoje fosse o último dia da minha vida.
E se hoje fosse o último dia da minha vida? O que eu diria pra você? Eu não diria nada, eu apenas me despediria com um beijo carinhoso na sua boca, um abraço apertado, e te daria adeus. Tudo que eu tinha pra dizer eu já disse a vida toda, todo dia.
Não me bateria nenhuma tristeza, pois eu tenho a plena certeza que nosso amor vai além desse plano.
Mudando um pouco o que disse o Pessoa, você reinou no que eu sempre fui, sou e serei.
À você escrevi inúmeras cartas de amor, e você idem. As guardo numa caixa vermelha, cor da nossa paixão.
Como Fernando Pessoa sempre permeou nossas vidas, mais uma vez eu faço uma referência a Ele: ele dizia que tinha “uma espécie de dever, de dever sonhar, sonhar sempre”. E é o que fazemos juntos.
É uma pena, uma grande pena, que não saiba seu nome até hoje, que não saiba onde você mora, nem sequer sua idade. Você, tão sonhada e querida pessoa, não existe. Só existe nos meus sonhos. Neles você reina absoluta, mas na vida real não. Na vida real, você não é nada.