quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Aridez.


A madrugada me consome como tem feito nos dois últimos meses.
Lá fora um calor de verão que faz as pessoas se despirem quase que por completo.

Aqui dentro do meu quarto, um calor humano que me faz querer estar coberto com duas mantas.
Fumaça no ar, me acolhendo na última madrugada do ano.
Minha insônia querida de todos os dias cisma em não me deixar.
Com ela não me deixando, crio meu mundo paralelo dentro de um cômodo ocupado por quinquilharias do passado, meu, e de outros.
Parece que a única coisa viva que habita esse quarto é a planta que meus pais compraram, e que está aqui, como todos os anos fazemos.
Eu, uma folha seca, morta e amarelada, como a manta que me cobre.
A tristeza de pré-constatar que passarei a noite do Ano Novo sozinho me consome, assim como a brasa do incenso consome o pó de que é feito.
Os vasos de barro que ganhei há tempos ainda esperam seu canto; o copo de água sagrada ainda espera há mais de uma semana seu local de despejo; a bagunça generalizada ainda espera quem a desfaça.
A única coisa nova, límpida e branca é a manta nova que cobre a cama, porque todo o resto é amarelado, velho, seco e árido.

Faltam pouco menos de 24 horas pro novo ano.
Daqui a poucas horas, o mundo festejará a virada, e eu, provavelmente ‘sozinho’ darei as benditas boas-vindas à 2010.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

De novo.


Ficar até de manhã conectado esperando ele chegar.
Ele não chega, ir dormir pensando nele.
Ele chega, papeia até quase de manhã, se deita na cama, olha pro teto, e pensa.
Ouve as mesmas músicas.
Chega cansado, senta e o procura.
Escrever isso aqui, e achar ridículo.
Ser ridículo.
Se sentir bem. Perto. Alargar sua vida, tatuar sua alma.
Estou sentindo.
"Eis a Lapa", Caê.
Foi na Lapa.
De novo. De novo.

domingo, 11 de outubro de 2009

Penso nele.



Já é madrugada, e o sono não me vem. Penso nele, ou melhor, neles.
Depois de horas de papo com o poço encantado, parece que a coragem toma conta do meu corpo e da minha cabeça. Mas o meu lado “normal” logo chega dizendo que eu não sou capaz de fazer aquilo que desejo. A quem dar razão? Em quem acreditar? O que fazer? Não sei. Ou melhor, até sei, mas me falta, como sempre, a coragem. Fato recorrente.
É começo de noite, estou me arrumando para encontrar Ele, aquele que eu tenho pensado. Coloco uma roupa que me sinto bem, confortável. Um sapato fechado, já que está chovendo um pouco. Um cachecol, e borrifo em mim o perfume que Ele gosta. Tenho que correr, porque Ele está lá embaixo me esperando, e debaixo de chuva, tadinho. Não há muitas pessoas na rua, por causa da chuva. Eu saio do elevador, Ele está ali na frente me olhando de longe. Vou ao seu encontro, abro o portão do prédio, e Ele vem me abraçar. Ficamos abraçados, sentindo o cheiro do outro, a respiração ansiosa de nos ver, então Ele me dá um beijo na boca, leve. Pegamos o carro dele, e partimos rumo a um bistrô simpático e pequeno num bairro igualmente simpático e calmo. No carro, Ele me elogia, diz que estou cheiroso, bonito, bem arrumado, e que estava esperando ansiosamente para me encontrar. Chegamos no tal lugar, sentamos na mesa, bem reservada, de modo que possamos trocar carinhos sem sermos percebidos.
Comemos, bebemos, conversamos, trocamos carícias quase apaixonadas, pedimos a conta, e partimos para minha casa. Ele estaciona o carro ali perto, subimos no elevador, e chegamos ao meu apartamento. Nos beijamos intensamente, calorosamente, como dois animais loucos por prazer. Insanos. Ele beija meu pescoço, eu faço o mesmo. Ele me deita na cama, tira minha roupa, tira a Dele, e fazemos amor como dois apaixonados. É intenso, puro, verdadeiro. É só.


Guardo essa sensação, e paro aqui.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Qualquer outra espécie de dor.



“(...)
Fosse amor ou desamor
Ou qualquer outra espécie de dor
Eu quero mais ser imortal,
Quero ser o meu futuro ancestral
Quero mais tabacaria,
Mais pessoa, mais Maria,

Mais vinho, mais poesia”.

Não gosto de vinho. Não fumo. Mas queria que minha vida fosse recheada dessas coisas, no sentido mais puro que isso possa parecer. Não desejo passar a fumar, ou a tomar vinho, mas estar, fazer acontecer situações onde se possa tomar um vinho em paz, ou fumar um cigarrinho em paz, conversando com seus amigos, no seu apartamentinho minúsculo, porém SEU, com a sua cara. Uma boa música tocando, um bom incenso aceso, livros espalhados pela sala. Pra começar, estamos na sala. Eu, o poço, e alguns que imaginei. Sei bem quem são. Então, eu falo uma poesia de Dona Sophia, outro rebate com Pessoa, um terceiro fala a letra de uma canção, um quarto dá uma forte gargalhada, e serve as taças vazias com mais um pouco de vinho, tinto. Eu, fico na água, em temperatura natural. O disco acabou, me levanto, e coloco pra tocar um disco antigo, da minha querida Dolores. Primeiros acordes, e...”hoje, eu quero a rosa mais linda que houver, e a primeira estrela que vier, para enfeitar a noite do meu bem”. Sentimos o primeiro minuto da canção, belíssima. O telefone tocou, um instante. (era seu namorado, avisando que está chegando com uns queijinhos) Ele sabe que você ama queijo. Estão completamente apaixonados um pelo outro. Já estão juntos há quatro meses. Pode parecer pouco, mas pra nós, intensos, já é um longo período. A luz está baixa, é noite de lua nova, abençoando os namorados. Ela nos ilumina, e então a reverenciamos, “Nossa Senhora do Silêncio”. O queijo que ele trouxe está uma delícia, todos partilham disso. De repente o poço se levanta num rompante, e começa a falar aquele poema que você ama, “Passagem das horas”, e você delira. Falam juntos, riem, estão felizes, são felizes. Se amam também. Aquela energia boa toma conta da sala, como uma droga quando faz seu efeito. Todos se drogam, só que de amor, de intensidade, de luz, de paixão ardente, de encantamento. Riem, falam, gargalham, se abraçam, se beijam, transcendem. São únicos em sua beleza, e só.

Não quero cortar esse momento, porém paro aqui, preenchido por essa sensação. Preciso disso, vou ter isso. Repito, vou ter isso.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A ausência do poço.



Faz tempo que não visito o poço encantado. Não o vejo, nem jogo uma pedrinha, não falo com ele, não o toco, nem sinto seu cheiro. Mas é certo que outros o visitem, assim ele nunca fica sozinho. Para falar a verdade ando meio afastado dele, e não sei porquê. O amor e o carinho que eu sinto por aquele poço é tão grande que transcende qualquer distância, qualquer telefonema não vingado, qualquer visita não feita, e a ausência. Ah, a ausência...
Sinto muito a falta dele, mas acredito (prefiro acreditar) que ele também sente a minha. Vejo que ele vive cheio de água, de emoções, de pessoas em volta, de amigos, de encontros, saídas, e afins. Mas a minha companhia tem sido escassa. Uma pena, já que o amo tanto.
Andei pensando, e acho que hoje vou lhe fazer uma visitinha. Fui numa loja de essências e comprei um vidrinho de essência de jasmim, para jogar em seu interior e perfumá-lo. Comprei lindas flores, das mais variadas, e vou deitá-las ao seu lado. Encontrei em meio aos meus livros de poesia, um poema lindo chamado “A ausente”, de autoria do saudoso Vinícius de Morais, e irei recitar pra ele.
Ele diz:

“Amiga, infinitamente amiga
Em algum lugar teu coração bate por mim
Em algum lugar teus olhos se fecham à idéia dos meus
Em algum lugar tuas mãos se crispam, (...)
Tu desfaleces e caminhas, como que cega ao meu encontro...
Amiga, última doçura
A tranqüilidade suavizou a minha pele
E os meus cabelos. (...)
Vem, amiga
(...)
Vem mergulhar em mim
Como no mar, vem nadar em mim como no mar
Vem te afogar em mim, amiga minha
Em mim como no mar...”

A possível conotação sexual do poema inexiste nessa situação. Só sinto um enorme carinho e amor de irmão pelo poço (por ela).
Será que ele vai me receber bem nessa visita de hoje? Será que ainda vamos ter papo um com o outro? Espero que sim, espero muito que sim.
Ele é muito precioso para perdê-lo de vista assim tão fácil. Não perco mesmo.
Te amo, meu poço querido. Me banhe com tuas águas claras e puras. Me emocione, me inspire, me lave a alma toda vez que precisar.
Estarei sempre te olhando de longe. Ou de perto, se você deixar.
Me espera, já estou chegando.

(para Si, minha doce poetisa, irmã de alma).

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Quando o poeta ama.



Eu te amo até o dia em que eu for na Lua.
Eu te amo até o dia em que o Sol morrer, e não mais brilhar.
Eu te amo como a uma flor, desabrochada, linda.
Tenho insônia só de pensar em ti, daí ouço uma música, acendo um incenso, e durmo como se estivesse abraçado a você.
Te amo até meus dias acabarem, meu ar faltar, minha fala acabar, meu sexo murchar, e minha vida se esvair.
Até o dia em que a Terra parar de rodar, entrar em choque com o Universo, e eu gritarei seu nome em meio a uma praça lotada de pessoas com medo do que estará acontecendo.
Eu te amo ouvindo Dolores, Maysa, a abelha rainha, sempre.
Sabe sempre? Então, eu te amo assim, para ele (ou ela).
Te amo até quando formos uma estrela, brilhando no céu, lado a lado.
Até quando jogarem pétalas de rosa branca sobre o meu corpo, imóvel e inativo.
Amo profundamente você, sua beleza, seus cabelos, suas mãos que me tocam, sua pele macia, sua boca, seu corpo, seu colo.
Seu olhar de ‘ternura antiga’, naquela rua escura, no vento frio.
Te amo até o dia em que vamos encontrar a estrada do Sol, e vamos caminhar rumo à ele, a estrela maior.
Te amo ouvindo Yann, um pianinho baixinho, ou um samba-canção do Caymmi.
Abro a janela do meu coração e só vejo sua figura, olhando pra mim, sorrindo, e me chamando: “Vem, me dá a mão...”
Então eu vou até o seu encontro, te beijo, te cheiro, sinto tua pele sedosa, macia, encostando na minha.
Em você eu me encontro, me satisfaço, me lambuzo, me encho de prazer.
Eu te amo quando os sinos tocam. Quando transamos à beira mar, na areia pura, naquela praia distante de tudo.
Te amo recitando Pessoa, Dona Sophia, Clarice, sabendo de muita coisa que vimos juntos.
Te amo agora, neste exato momento. Te amo porque você acabou de me ligar, dizendo que chegou bem em casa, e que agora vai dormir pensando em mim.
Eu te amo do tamanho de uma vida longa, cheia de prazeres.
Amo ser amado também por você.
Sentar do seu lado, numa manhã de sol brando, num banco de praia, e ficar admirando a beleza e a grandeza do mar azul. Fitar o Atlântico.
Por você eu atravessaria o Atlântico num bote à remo. E encontraria você do outro lado do continente, sob a pele nua, em cima de uma pedra bem alta.
Lá faríamos amor, juras, promessas.
Te amo tanto que me faltam palavras, mas tento prosseguir.
Só você cura minha insônia, quando nos falamos à noite.
Só você me diz coisas bonitas o tempo todo, e eu acredito em tudo.
Lembra do dia que você me olhou carinhosamente, naquele deserto de Sal, sem nada nem ninguém, e me disse: “Eu te amo do tamanho disso aqui”, lembra? Aquele foi um dos dias mais felizes da minha vida.
Tanto que peguei um pouquinho do sal onde estávamos pisando e guardei num vidrinho. Guardo-o com o maior carinho do mundo.
Nossa, lembra aquele outro dia em que o beija-flor que passava por nós pousou no seu dedo indicador, e bateu suas asinhas sem parar, rápido demais, lembra? Então, meu coração bate assim quando te vê.
Até depois que ele não bater mais, eu vou continuar te amando.
Você me ensinou a magia de viver intensamente, como se hoje fosse o último dia da minha vida.
E se hoje fosse o último dia da minha vida? O que eu diria pra você? Eu não diria nada, eu apenas me despediria com um beijo carinhoso na sua boca, um abraço apertado, e te daria adeus. Tudo que eu tinha pra dizer eu já disse a vida toda, todo dia.
Não me bateria nenhuma tristeza, pois eu tenho a plena certeza que nosso amor vai além desse plano.
Mudando um pouco o que disse o Pessoa, você reinou no que eu sempre fui, sou e serei.
À você escrevi inúmeras cartas de amor, e você idem. As guardo numa caixa vermelha, cor da nossa paixão.
Como Fernando Pessoa sempre permeou nossas vidas, mais uma vez eu faço uma referência a Ele: ele dizia que tinha “uma espécie de dever, de dever sonhar, sonhar sempre”. E é o que fazemos juntos.
É uma pena, uma grande pena, que não saiba seu nome até hoje, que não saiba onde você mora, nem sequer sua idade. Você, tão sonhada e querida pessoa, não existe. Só existe nos meus sonhos. Neles você reina absoluta, mas na vida real não. Na vida real, você não é nada.

sábado, 22 de agosto de 2009

A velha história.



Ah, mais uma noite de festa, mais uma daquelas, mais garotos soltos na negra luz, mais sonhos, desejos, mais flertes não vingados, mais essa velha e conhecida história. Um episódio que se repete, às vezes a cada semana, a cada quatro ou cindo dias. Os gatos pardos passam por você na noite negra que se ergue e começa felicíssima. Pequenos passeios, mesas de bar, seus conhecidos, outros amigos, e a boemia, sua colega. Sobe-se uma ladeira semi-escura, chega-se ao lugar enfim. Reencontro de amigos, velhos e novos, olhares soltos e perdidos. Alguns olhares certeiros, sempre à procura de algo, ou alguém. Algum gato pardo manso que queira um urso carente e sem pêlos. São vários nesse momento de busca, mas você os põe na balança rapidamente, e pesam quais são os mais bem cotados. É ele! Aquele, de camisa de malha, manga comprida, branca. Ou então se esse não der pode ser aquele outro, sei lá, algum outro. A sua primeira opção toda hora vem te abraçar, manda beijo, grita seu nome lá de baixo, ora lá de cima, vem, te abraça de novo, e claro, você cria aquela enorme expectativa. Rolar ou não rolar. Falta de alguns amigos, sorte de fazer outros. A hora passa, e nada acontece com você. E ao redor, simplesmente tudo acontece, é incrível. Louvável, como diria aquele pequeno grande homem. Você na sua ansiedade de ficar bêbado e louco, bebe exatamente sete doses de vodka com limão e açúcar, entremeado com uma água. Sente vontade de (...), pra sua pequena tristeza. Se senta no primeiro andar, quase encosta a cabeça na mesa com tampão de mármore, dando a nítida impressão que as coisas não vão muito bem. Mas você resiste, e não cai, fica firme, mesmo sentindo uma leve tontura nos Andes. Os gatos pardos passam, voltam, passam de novo, e nada. A festa termina, a luz se acende, e as máscaras se revelam. Caras desbotadas, borradas, transfiguradas devido ao álcool aparecem na clareza do dia que começa a nascer. Aquela pinta costumeira de fim de festa, conta paga, despedidas, inclusive com o da malha branca, táxi, lanche, e casinha. Aí aquela velha baboseira de sempre, o mesmo ritual. Até que enfim, você senta na sua cadeira negra, olha pra tela do seu computador, abre essa página, e começa a escrever sobre tudo que se passou há poucas horas atrás.

Termina, se fecha, deita na cama, e torna a sonhar, tal e qual fez na negra nova passada.

domingo, 2 de agosto de 2009

Ela. Ah, ela.



Você voltou pra casa na expectativa de falar com ele. E conseguiu! Só que não foi como você esperava. Você esperava mais, muito mais. Sempre mais. Infelizmente enfim, ele foi dormir, e você ficou sem dormir pensando nele. No seu rosto delicado, na pouca barba, na sua boca gostosa, no seu corpo que te chama atenção, no seu jeito meigo e carinhoso. E no seu olhar, misterioso, não sei de quero ou não-quero. Aquela velha ilusão de sempre, aquela velha e conhecida expectativa gerada ansiosamente, mas tudo bem. Deixemos rolar. Mais uma vez a madrugada foi cheia. Cheia de encantos, de um papo incrível, com uma pessoa igualmente incrível. Intensamente bela, puramente sedutora, claramente linda, e o melhor, uma grande amiga.
Olho pra trás, e a fumaça, sua velha e querida conhecida, toma conta do quarto. Suas músicas belíssimas te encantando, te trazem aqui, ao seu cantinho preferido, lugar onde pouquíssimos tem o prazer de entrar e conhecer. Descobrir, desvendar, caçar, pra poucos.
Ela sempre com palavras bonitas, papos maravilhosos, alma de poetisa, voz de sedutora, experiência de mais de quatro décadas vividas com intensidade. Intensidade esta nas palavras, nos gestos, no olhar, na escrita, nos versos, nos conselhos, na feminilidade sempre aflorada e desejada.
Si, que emoção ser por ti tão querido, tão amado, e bem visto. Assim te vejo, assim te sinto, te observo, te leio, te devoro, a cada palavra bem dita, a cada papo diário, noturnos e profundos.
Si, seguir-te-ei caminhando pela vida afora, cantando, falando suas poesias, as minhas, criaremos ‘vida’ em nossas vidas.
Amo-te, apaixono-me a cada instante vivido com você. Minha irmã de alma.


Si.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Minhas noites.



Nas minhas noites eu escrevo, e recito poemas, em voz alta é claro. Sempre leio trechos dos livros que estão à minha volta, muitas vezes o mesmo por noites seguidas. Quando “pedem” recito o mesmo poema, aquele que acabei de recitar, ou aquele de ontem. Quando a Energia pede, quero dizer. E pensar que há pouco tempo atrás minhas noites eram terríveis, só de imaginar essas horas já me batia aquela angústia, minha velha conhecida. Porém de uma hora pra outra, percebi que havia algo de diferente naquele quarto entulhado de coisas e de fumaça. Eu havia transformado completamente “a desconhecida”. E isso era tão bom! Ou melhor, É bom, ótimo! Aquela angústia já não existe mais, e todo aquele sentimento ruim se foi. Agora só restam as poesias, a fumaça, as músicas lentas e suaves que tanto gosto, meu edredom querido, e uma energia incrível, que EU criei. Sem ajudas, somente eu sozinho no meu quarto, rodeado dos livros que amo, da fumaça que me vicia, no bom sentido, no cheiro perfumado, meus quadros, meu ninho, meu refúgio. Nada dos problemas do dia-a-dia, nada de angústias comuns, nada de ruim. Tudo isso eu deixo lá fora, e da porta do quarto pra dentro só paz, só calmaria, só carinho e afeto, e uma solidão, gostosa de sentir e de estar.
Meu incenso preferido aceso me traz uma sensação incrível, que só eu sei, de acolhimento, de paz interior, de cobertura. Hoje eu sei a hora certa de acendê-lo, a hora exata, só pela energia do momento. Agora enquanto escrevo é um ótimo momento para acendê-lo, e ele está aceso. O ventilador desligado, devido ao frio, faz com que a fumaça dele saia lenta, linda, bailando pelo ar, tal como eu gosto de vê-la. Ela vai preenchendo o ar do quarto, até que ele fique coberto de ‘Flora’.
Hoje, nas minhas noites, eu ouço e vejo o “mar”, encontro “pessoas” formidáveis, ouço e sinto o amor, a paixão. E ouço os sinos, eles são in-críveis. É lindo de ver, de ouvir, de sentir. Sinto-me repleto.

domingo, 19 de julho de 2009

E sonha.



Mais uma vez você arriscou. E foi ótimo como da outra vez. Você encontrou amigos, uma amiga querida, e ainda foi agarrado. No meio da noite a ligação que você quando recebeu imaginou quem era. O dito, o não dito, e você já entendeu tudo, devido ao seu profundo conhecimento da causa e dos envolvidos. Mas claro, aquilo te abalou, mas não como você imaginou que fosse acontecer. Na hora mesmo você parou e disse, pra você mesmo: Isso não te pertence, e você NÃO vai ficar assim. E assim foi. Continuou curtindo sua noite, numa boa, e até esqueceu daquilo. Claro que por alguns segundos você lembrou, já que sua cabecinha não pára, mas tudo bem, nada tão agravante. Logo depois cantadas e mais cantadas, apertos, cheiros, beijos não dados, e você resistiu. E não se abalou, por incrível que possa ser. Por que você não se abala com "isso"? Acho que você sabe, mas é melhor deixar quieto. Enfim, você correu de lá, chegou em casa, sentou aqui e pronto, está terminada a noite. Aí vem todo aquele ritual, incenso claro, punheta quem sabe, isso aqui, água, poesia, pensamentos, pensamentos, e mais pensamentos.
Até que você adormece, e sonha, sonha e sonha.

domingo, 28 de junho de 2009

Deixa estar.



Por que esses assuntos te deixam tão atônito? É estranho o que sinto, mas não sei não sentir isso. Pelo menos por enquanto.
Talvez, num futuro próximo. É como se a história se repetisse, sempre, naquele mesmo disco arranhado. Será que da mesma forma que eu escolhi “aquele” disco, eu escolhi esse também?
Já são cinco da manhã, e não tenho sono ainda. Depois de assuntos tão diversos, tão bonitos, tão ‘tão’. Você já imaginava que isso fosse acontecer, ou que isso estivesse acontecendo. Mas mesmo assim você fica incrédulo, e com outro sentimento. Sentimento este ‘irrevelável’. Revelável somente pra uma pessoa, com hora marcada e tudo. E pensar que tudo era tão diferente há tempos atrás, nossa. Isso te tira o sono, te tira o sossego. MALDITO SEJA, Deus que me perdoe. E ainda fico ouvindo essas músicas. Mas deixa estar, a minha também vai chegar. E quando chegar vai acabar com tudo. Eles é que vão ter esses sentimentos, vão ficar incrédulos, chocados, e principalmente com aquele sentimento ‘irrevelável’. “Um brinde” a essa noite tão calorosa. Boa, ótima, mas com percalços.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Sinto muito a sua falta.



Ouvir aquelas músicas e relembrar dos bons tempos. É isso que tenho feito. Não só ouvindo aquelas músicas, mas as lembranças me vêm a todo o momento. Hoje, em especial, senti muito a sua falta. Muito mesmo. É como se tivesse batido um arrependimento de tudo aquilo que lhe falei, mas ao mesmo tempo, sei que precisava dizer tudo aquilo. Precisava mesmo, e assim o tempo passou, tudo aquilo se perdeu, ou está se perdendo, ao meu ver. E isso me entristece, muito. O bolo de aniversário de vários andares, com muitas velas acesas está caindo. Muitas fatias já foram cortadas, algumas com violência. Violência esta por ambas as partes, e por parte da chuva. As velas estão quase apagadas, mas eu ainda tenho uma caixa de fósforos e alguns poucos palitos dentro. Praticamente todo dia eu risco um palito e tento acender uma velinha, mas aí vem um vento de não sei onde e a apaga. Só que vejo que os palitos estão acabando, e não tem como comprar outra caixa, essa era a última das últimas. Substituir a massa do bolo também não tem como, muito menos o recheio. Alguns pedaços eu comi, há muito tempo, outros pedaços você comeu, outros ainda foram aqueles cortados com violência. Ainda agora, há alguns minutos atrás, você surgiu do nada, do escuro, e conseguiu acender uma velinha. Eu fiquei protegendo a chama para que ela não se apagasse. A chama durou pouco tempo, fiz o maior esforço, mas percebi que você deu uma assopradinha de leve, sem querer que eu notasse. Mas eu notei, e fiquei triste. Esse enorme bolo fica numa sala escura, num sobrado mal iluminado da Rua Amizade, número 0. Ele está no meio de uma sala, totalmente escura, e há somente um foco de luz em cima dele, iluminando-o bem. Hoje eu estava em pé ao lado do bolo, admirando-o, e de repente alguém acendeu um palito de fósforo do meio do breu. Era você vindo acender a velinha, e aconteceu aquilo que descrevi.
A sala é toda fechada, pois se entrar algum ventinho, as velas se apagam. Na porta do sobrado mal iluminado têm dois seguranças tomando conta da área. Porém eles não falam, são mudos. Não ouvem, são surdos. E não enxergam nada, pois são cegos. Só enxergam o breu, e vultos que passam por eles. Vez em quando algumas pessoas passam pela porta do sobrado, e abusam do não-poder dos seguranças. Essas pessoas tentam incendiar o sobrado, atiram pedras, tentam derrubar aquele lugar, e roubar o tão precioso bolo despedaçado.
Aquele bolo é sagrado, é muito precioso, e extremamente importante para mim. Acho que pra você também. Acho, não sei.
Uma vez, há algum tempo atrás, houve uma forte tempestade, que derrubou algumas telhas do telhado do sobrado, o que ocasionou goteiras na sala. Os pingos d’água caíam justamente em cima do bolo, e penetravam seu interior, tamanha a força da água. De madrugada, nesse mesmo dia, a chuva se intensificou, molhando mais ainda o bolo, lhe arrancando pedaços, tal era a violência da chuva. Logo que a chuva passou, fui visitar o sobrado, e tentei consertar o telhado da sala. Recoloquei algumas telhas, mas faltou um pedacinho de uma delas, e de vez em quando ainda cai uma gotinha de água no bolo, mas essa gota é menor. Esse bolo tem nome e sentimentos. Mas só quem sabe da existência dele somos eu e você. Quando nos conhecemos, fizemos uma espécie de pacto de que sempre protegeríamos esse bolo, e estamos aqui, desde aquele tempo, cuidando dele.
Ele é frágil. A massa dele é feita de carinho, tem recheio amor-de-irmão doce, com cobertura de perdão. Quando o fizeram, não capricharam na cobertura, e isso explica muita coisa.
Na ocasião em que guardamos o bolo lá dentro, deixamos um CD arranhado tocando todo o tempo a mesma música. Essa música se chama “Canção do amor sem fim”.
Todos os dias eu o visito, tento conversar com ele, mas tem dias que ele não me dá bola, em outros ele é até simpático. Ontem, quando fui visitá-lo, lhe dei um presente. Levei um pouquinho de calda de perdão, pra tentar repor a cobertura. Ele me retribuiu com um sorriso leve, e um obrigado meio rápido.
Sim, esse bolo sorri, ele chora, canta, dança. Tudo isso paradinho, em cima de uma mesa. Sempre tenho o cuidado de deixar o foco de luz que tem em cima dele bem aceso, para que ele não fique no escuro nunca. Ele tem medo de escuro.
Sabe, há algumas semanas, venho percebendo que alguns pedaços da massa foram arrancados, ou comidos, não sei. Mas como pode, se só quem entra lá somos eu e você? A não ser que você tenha comido um pedaço, ou arrancado...Mas você não teria essa coragem, de lhe arrancar um pedaço...Teria?
Cuido dele com o maior prazer. Passo horas com ele às vezes.
Ele bolo tem o poder de nos fazer feliz, de nos trazer tristezas. Ele nos causa sempre alguma sensação quando o vemos. Ele tem poder, e precisa ser cuidado, até quando nos for permitido.

Você quer continuar cuidando dele comigo?
Vem, me dá a mão...

sábado, 23 de maio de 2009

Falta de pele.



Sinto falta de toque, de pele, de corpo encostado no meu. A essa altura poderia ser o toque de qualquer pessoa. E já que não posso no momento ter isso, me satisfaço com uma colcha pesada. Mas a falta é grande, é como se meu corpo pedisse. Ele pede outra pele, eu lhe dou um pedaço de pano, e o resultado é meio estranho, mas funciona por enquanto. É sábado à noite, fico em casa, ouvindo as músicas que não sei os nomes, o incenso aceso, ventilador desligado, cheiro de poesia e palavras soltas no ar. Vontade de me jogar em cima de alguém, naqueles que você gosta, ou até naquele que você pensa em gostar. Como sempre sempre, lhe falta a bendita coragem. Sinto que está quase estourando, isso e outras coisas. Revê-los tem sido bem difícil. Oxalá a coragem lhe venha então.

domingo, 17 de maio de 2009

O poço.


Um poço. Profundo, bem profundo. Joguei uma pedrinha nele em janeiro, ou fevereiro, não sei ao certo, e ouvi um barulho. De cara, foi um barulho diferente, que me encantou, que me chamou a atenção, e me despertou a vontade de ir até esse poço encantado mais vezes. E fui. Certo dia, percebi que sua água estava mais rasinha, meio tímida. Na certa, ele estava com problemas. Como fazia pouco tempo que o visitava, preferi não perturbá-lo, e não joguei nenhuma pedrinha, o deixei quieto. Mas fiquei com ele na cabeça. Pensando muito naquele dia em que o vi retraído. Um tempo depois fui visitá-lo, e percebi sua melhora. A árvore que o cobre estava florida, cheia de bonitas flores branquinhas, puras e ingênuas. Peguei uma que estava caída, sozinha, no chão e guardei comigo. Guardo-a numa cestinha no meu quarto. Essa noite, ela me contou segredos, e estava linda, desabrochada como nunca. Ela me contou que a raiz de sua mãe, a árvore, fica no fundo desse poço, nas suas profundezas. Sua raiz é tão longa que chega até o fundo da Terra. Hoje fui visitar o poço encantado, fiquei em frente a ele, horas a fio, admirando sua beleza, sua delicadeza. Decidi cantar-lhe uma música. De tão emocionado com a canção ele começou a chorar, transbordando. Então me despedi dele, e já indo embora, eu ouvi sua voz me chamando. Ele me perguntou meu nome, eu o respondi. Depois lhe fiz a mesma pergunta, e ele me respondeu com felicidade: “Meu nome? Sílvia”. Agora que sei seu nome, que estamos mais íntimos um do outro, sempre que puder, sempre que precisar e quiser, vou lá visitá-lo. Vou alimentá-lo, jogando uma pedrinha, ouvindo o som que ela produz ao cair no fundo dele. Esse poço é encantado, é mágico, e estar perto dele me faz muito bem.

Te amo.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Sonhe querido.



A comida me sobe e tenho preguiça de pensar. Tomo um gole d’água, escuto aquelas músicas agradáveis, sinto o cheiro do incenso queimando. Paro, escrevo, e penso. Depois tomo mais um gole d’água e escrevo, não querendo abandonar isso aqui.
Estou suando e sentindo frio ao mesmo tempo. Preciso de carinho, de abraços, de beijos afetuosos, e já que não tenho nada disso no momento, me satisfaço com uma colcha pesada, fofa, que me protege da noite, e dos medos. Ela me dá carinho, ela me conforta, e eu desejo por hoje ficar sozinho, mesmo que precisando disso tudo. Meu quarto cheira a “Flora”, e está imerso na fumaça, como eu gosto. Por instantes você pensou ter “perdido” a noite, seu bem-estar, mas depois de ler sua resposta tudo se clareou, parece. Debaixo da colcha pesada o suor escorre, mas prefiro ainda ficar coberto, assim me sinto protegido, dentro do meu ninho. A noite lá fora corre solta, cheia dos mistérios. Eles já fazem efeito dentro de você, e o torpor começa, mas você percebe que hoje, sexta-feira, a angústia é menor, quase não existe. Aquela angústia, quero dizer.
No táxi pra cá você desejou o seguinte: sentar num barzinho calmo, ou qualquer outro ambiente igualmente calmo, com uma música baixinha, ao lado de uma pessoa agradável, conversar sobre a vida, sobre o amor, sobre relacionamentos passados, caso existam, presentes, caso existam também, e futuros, que você realmente espera que existam. Depois pegar um táxi, ou uma carona com essa pessoa, chegar em sua casa no nível da rua, dar boa noite pro porteiro do prédio, subir pro seu apartamento, e curtir o resto da noite. Colocar um som bacana, acender seu incenso preferido, pôr uma roupa confortável, sentar ou deitar na sua cama ou no sofá, e pensar em como aquela pessoa é gentil e educada. De fato uma companhia agradável.
Ahh, sonhe querido, sonhe. Quem sabe um dia isso venha a se tornar realidade. Sonhar pra você, sempre.

domingo, 10 de maio de 2009

Ficar pensando, sempre.



Se sentir sozinho no meio de uma multidão de pessoas felizes, dançando, curtindo uma festa. Não saber, ou não se permitir curtir com eles. Como sempre, lhe faltam coragem e atitude. E isso te frustra, já que você, como sempre também, gerou expectativas. Você está preso ao que você criou. Daí vem o antigo nome disso aqui, só hoje você entendeu. Por que você sempre cria expectativas, sem nem saber das coisas certas? Por que esse ‘tipo’ de coisa ainda te deixa balançado? Aí você chega em casa, põe aquelas músicas que te fazem pensar, e fica de fato pensando. É melhor ir revê-los.

terça-feira, 21 de abril de 2009

A noite do feriado.



Passar um dia de feriado inteiro em casa sozinho te faz pensar um monte de coisas. Boas e ruins.
Te faz pensar naquela calça apertada que te chama atenção, que te dá tesão e te impulsiona a se masturbar horas depois.
Te faz pensar nas suas atitudes de bom moço, que estão te cansando. Um simples e carinhoso comentário feito sobre você te impulsionou a querer por um momento rápido, porém significativo, ter mais atitude. Se mostrar pro mundo, no sentido mais puro da expressão. Viver uma vidinha mais ou menos está te cansando. Isso faz com que você pense quatro ou mais vezes em pirar, enlouquecer, "viver e não ter a vergonha de ser feliz". Cantando sempre a beleza de ser um aprendiz, talvez pra sempre dentro da sua humildade.
Nesse breve momento passa pela sua cabeça em mandar recados pro mundo dizendo em alto e bom som em quais garotos você se interessa, não tendo vergonha de nada nem de ninguém. Logo depois desse momento sua cabeça racional diz não a tudo que você pensou brevemente. É noite agora, e você não é muito íntimo dessa negra. Ela te engole, quase que não te deixa viver. E você torce para que amanheça logo e ponha em prática tudo que você pensou na negra noite anterior.

domingo, 12 de abril de 2009

Tudo seria bom.



Sair sem saber se você realmente está afim de ir. Indo, perceber que foi a melhor coisa que fez. Se emocionar, mesmo que um pouquinho, porém pôr pequenas lágrimas pra fora. Encontrar uma pessoa num momento de fragilidade, hiper-sensibilidade e carência. Sentar na beira da praia, sentir a brisa da noite, e falar de relacionamentos, de amor, de troca de carinho, de afeto. Olhar pra essa pessoa, admirá-la, olhar, admirar mais, toda sua beleza contida, seus lábios desenhados, seus pêlos bem lisos, seu falar carinhoso, seu jeito meigo e sensível. Olhar essa pessoa e desejá-lo, mas um desejo não somente de um beijo e uma noite de sexo, mas de trocar seus carinhos e afetos com ela, sua energia, a melhor, porque essa pessoa merece a melhor energia que você tem. Olhá-la e perceber o quanto ela é especial, é única, o quanto ela merece ser feliz, ao lado de uma pessoa especialmente bacana, e pensar que essa pessoa bacana poderia ser você. Olhá-la e concordar com todos os seus ideais, seus valores. Desejá-la a fundo, como ser humano, como homem, no caso, querer tê-lo como seu namorado. Com ele você se casaria no exato momento, passaria horas conversando, apesar da timidez dos dois. Olhá-lo, desejá-lo, perceber tudo isso, porém não ter coragem pra dizer pra ele o quanto ele é especial, o quanto ele é único, o quanto ele merece uma pessoa mais que bacana. Não ter coragem de dizer que você o deseja, que você se casaria com ele. Ao fazer tudo isso, você poderia estar estragando toda essa amizade bacana que vocês tem, e isso você não quer. Jamais. Deixá-lo sozinho depois de uma conversa entrecortada de silêncios, se recolher no seu quarto, e pensar. Pensar e imaginar como tudo seria maravilhoso se...

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Te pintei.



“Púrpura negra” te pintei. Me sinto agora cansado, depois de despender energia, porém imensamente feliz e pleno. Um cômodo escuro, cheio de fumaça, que baila sobre o ar sóbrio e solitário. Dentro dele um ser feliz, ouvindo sons inspiradores, aspirando cheiro de ervas naturais queimadas. Numa paz interior tremenda eu o fiz, oposta ao que estava ao meu redor. Nem por isso deixei de me inspirar, e continuei meu ofício. Expor a obra me deixa tímido, já que se trata de um momento muito particular, que divido com quase ninguém, não por ser triste, mas por ser íntimo demais para grandes exposições. Ocasionalmente ou não, o pintei no dia do aniversário de minha mãe. A cor que predomina na obra é como o nome já diz, a cor púrpura, roxa. E a cor que minha mãe mais gosta é exatamente essa. Acaso, destino, coincidência? Não sei, não acredito muito nesta última. Enfim, púrpura negra.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Púrpura negra.



Inspirar-me tem sido meus últimos maiores desejos. Ouvir e conhecer novas canções, novos sons, ruídos estranhos, deliciosos pros meus ouvidos, receber isso tudo tem sido minhas últimas atividades. Retrair-me, aflorar-me, pendurar-me no trapézio da vida, com a esperança de que não vou cair no chão. E caso caia, tenho quase a certeza que de um modo novo irei reagir, claramente calmo e sereno. Minha vida hoje, agora, no exato momento, tem a cor púrpura, cheia de fumaças que vão e vem, num balé lindo e sonhador. Minha vida agora, nesse minuto, tem cheiro de incenso natural, queimado com a maior calma. Minha vida está se transformando em púrpura pura, quase negra, opaca, porém com seu brilho interior que encanta a todos. Inspiro-me nisso, e tenho a esperança de que vou me manter inspirado pela eternidade, até quando a Energia-maior me permitir. Sinto minhas mãos leves, num bailado sobre o ar, lento, suave, sensual. Estou gostando de ser e de estar, e quero me dedicar a isso, somente a isso. Minha energia paira sobre a Terra, e atraio quem está na mesma sintonia, púrpura negra. Leve, calma, correndo o rio das canções que não sei os nomes. Sinto-me tudo isso.

domingo, 8 de março de 2009

Já não é mais a mesma coisa.



Ir pra lá já não está sendo como antes. Antes você se acabava de dançar, se divertia, saía exausto. Agora já está meio diferente, não digo pior nem melhor, só diferente. Você já não dança tanto como antes, passa a maior parte do tempo sentado, fazendo o que você mais gosta de fazer: observando o comportamento das pessoas. Pode parecer ridículo pra uns, inconcebível pra outros, inaceitável pra alguns outros, mas você adora fazer isso, e faz constantemente. Tem o Rui, um velho de longos cabelos amarelados, que passa a maior, ou toda, parte do tempo sentado lá em cima chamando os “amigos”, tomando conta da garrafa de vodka, tirando fotos com todos os saradões, e claro, passando a mão em todos. Tem as duas saradonas que se acham as melhores da boate, que namoram, ou são casadas, não sei, com os irmãos gêmeos. Uma com seu imbatível e enorme leque, com suas roupas sensuais, extravagantes, saltos altíssimos, e muito brilho no corpo todo, dançando sempre no queijo. A outra com seus sapatos de bico finíssimo, seu cabelo negro escovado, suas calças justíssimas, com seu bofe do lado, e seu inseparável óculos escuro no rosto. Tem o engraçadinho, que brinca com todos os seguranças, e até brinca de vez em quando com você, seu pirulito vermelho, seu óculos escuro no rosto, e suas danças exóticas. Tem o bonitinho moreno, que você soube recentemente que pega seu amigo de vez em quando, e é super fofo, e está sempre com chiclete na boca. Tem aquele que você acha lindo, o Pedro, que balança o quadril como ninguém, que você é louco pra ficar, mas que não tem nada a ver com você. Tem os seus novos amigos, a Raquel, o Dhan, que estão sempre lá. Tem os amigos dos seus novos amigos, que não são muito a fim de interagir com você, mas são igualmente presentes. Tem o seu amigo Saulo, querido, que vai sempre, cheio dos amigos, conhecendo a boate inteira, interagindo com você, dançando de um modo especial, e sempre acompanhado, cheio dos papinhos secretos. Sempre te abraça de um modo peculiar, e você adora. Tem o Filipe baixinho, que sempre pega dois ao mesmo tempo, agora que está malhando sempre tira a camisa, que faz pegações ultra quentes, e que está sempre com seu amigo de cabelo pra frente, piranha como nunca. Tem os diversos casos do seu antigo amigo, que às vezes está lá também.
Tem o povo da Cal, os que você fala, que você conhece, e outros que você conhece de vista, mas não fala. Tem o Cael, que vai todo fim de semana, com seu boné pro lado, seus olhos lindos, seu charme quase feminino, e quase sempre fala com você. Tem os seus amigos antigos, que de vez em quando vão também, mas não são figurinhas fáceis de encontrar por lá. Tem aquele altão, meio gordo, meio magro, que está sempre com um chapéu de praia que esqueci o nome, de short, geralmente branco, seu sapato branco, ou outro às vezes, seu pirulito na boca, seu óculos escuros meio amarronzado nas bordas, e seu jeito gay de dançar, além das tatuagens. Tem o altão sarado que você acha horrível, com seu jeito super feminino, que boné pro lado, sempre sem camisa exibindo o corpo, que pra você é horrível, com a bermuda enrolando entre as pernas, sempre de cinto. Tem aquele lindo loiro, que você considera o mais bonito da boate, que sempre fica com aquele outro saradinho loiro, que por sua vez fica com vários na mesma noite. Tem o Denis, que você era louco antigamente, mas que hoje em dia não faz a menor diferença, sempre com seu amigo Murilo. Tem aquela magrinha louca, sempre com roupas minúsculas, bem feias e vulgares, que chegou a ir fantasiada de gatinha, fora do carnaval, que está sempre intrometida nos amigos dos outros, e que nunca perde a área vip, nem um camarote. Têm aquelas duas amigas inseparáveis, a magrinha bonitinha que dança muito bem, que você até elogiou e foi agradecido, e a outra com bunda grande, de cabelo enroladinho feio, sempre de tops minúsculos, acompanhadas claro, do amigo delas, um garotinho magrinho, que faz as sobrancelhas, usa roupas quase femininas, e é pavoroso. Tem as drags, claro. Aquela que faz carão e é horrenda, aquela outra igualmente horrenda, que faz biquinho, de cabelão liso escorrido, com uma bunda de silicone enorme, e outras que não me recordo agora. Tem a Lacraia, sempre com roupas minúsculas, cabelo enroladinho meio molhado, mini-saias, sapatos altíssimos, sombra nos olhos, batom extravagante, e seu amigo inseparável, com seu cabelo feio e grande, enroladinho loiro falso, balançando a cabeça de forma rápida várias vezes, chegando a ser engraçado, e sempre te chamando atenção. Tem muito mais, muitos outros, que não me lembrei agora, mas que são figurinhas fáceis de encontrar. E tem você também, que antigamente só ia de preto, tentando esconder as gorduras, mas que quebrou um tabu e passou a ir de branco sempre, se sentindo melhor. Todos eles fazem parte do mundinho paralelo que é aquilo, que você se cansa, mas continua freqüentando.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O Carnaval.



Ficar 12 horas dentro de uma boate pode ser e é bem cansativo, mas se torna prazeroso quando ir pra essa boate é sua única opção de carnaval. A sorte é que você encontra sempre uns amigos, e aí interage com eles, conversam um pouco, dançam em outros momentos, e acaba conhecendo os seus respectivos amigos. Alguns, porque os outros não parecem estar muito a fim de interagir e conversar com você. Uma pena, já que você tem ido pra lá aberto a fazer novas amizades. Aquilo lá virou a sala de estar da sua casa, ou melhor, das nossas casas. Ou ainda melhor, o quintal, onde nos sentimos bem à vontade. Lá, a grande maioria das pessoas só querem saber de 'pegação', e quando você decide fazer um simples elogio a alguém, a uma pessoa com uma roupa bonita, ou algo que você achou interessante, essa tal pessoa acha que você vai querer dar em cima dela, e te trata como lixo, claro, não querendo ser galanteada. E você ri da situação ridícula que a pessoa criou, e decide escolher bem quem você quer elogiar, já que você gosta de fazer isso. Naturalmente, o garoto que você mais se interessou nesse período faz parte daquele nosso conhecido seleto grupo de amigos, e se torna muito mais difícil de interagir com ele, conhecendo bem o grupinho como eu acho que conheço. Acho, pois a cada noite, a cada fim de semana me surpreendo mais. Vão surgindo mais e mais integrantes e você percebe que o grupo é bem maior do que você imaginava, logo, impossibilitando de você conversar com grande parte da boate, já que ela é tomada por eles.
O famoso ditado “Ninguém é de ninguém” se enquadra bem a essa época do ano, e é seguido pela maioria dos seus amigos. Menos por você, que acha tudo isso absurdo, ridículo, patético e tudo de ruim. Você se enoja com toda essa banalidade que virou o jogo da conquista, da sedução, o beijo é tratado como um simples encostar de bocas e línguas, perdendo todo o encanto que merece. O sexo então, nem se fala, é feito com a mesma facilidade com que se engole saliva. E muitas vezes acabam engolindo outra coisa, de uma pessoa que você acabou de conhecer não faz nem meia hora. Patético, e triste. Triste porque você é uma pessoa que valoriza a sedução, o relacionamento, o sexo, o beijo, se este for tratado com o respeito que merece. Patético por saber que essas pessoas realmente pensam assim, uma pena de fato. Às vezes é até preferível passar o Carnaval sem beijar ninguém do que fazer o que fazem por aí. Me choca e me machuca toda essa banalização do afeto, que não existe numa hora dessas. Trocam-se amassos, apertos, beliscões, se passa a mão em tudo quanto é lugar, lambe-se tudo e todos, e o principal de tudo: você troca sua energia com outra pessoa. Só que claro, ninguém pensa na energia numa hora dessas. A sua energia, que você trata de equilibrar sempre, que você tenta manter positiva, que é única e soberana, sendo interferida pela de outra pessoa que você nunca mais vai ver e pode guardar resquícios da energia dessa outra pessoa com você. Triste da maioria das pessoas não pensarem assim, triste mesmo, e me deixa triste. Me magoa toda essa banalização, essa perda de afeto, essa incompreensão do que é afeto de fato. Chego a ficar mexido, sem nem mesmo participar disso tudo. Imagina se participasse, como iria me machucar. Graças a Deus penso dessa maneira e os outros que não pensam são capazes até de rirem de mim. Mas pode deixar, não ligo. Não é porque é Carnaval, época devassa, que vou contra tudo que penso e valorizo. Não é porque é Carnaval que vou sair por aí dando e comendo Deus e o mundo, que vou beber todas os drinks, cervejas, e tudo mais. Não vou sair por aí desperdiçando minha energia com qualquer um que encontro na rua, passo a mão e trepo. Pra depois nunca mais olhar pra ele, ou ela, porque está valendo tudo na altura do campeonato.
É muito triste ficar sozinho, nós sabemos, mas prefiro ficar sozinho a cometer essas atrocidades, arrisco a dizer.
Triste saber que a maioria dos que você convive pensam bem diferente de você. Mais uma vez faz você se sentir um estranho no ninho, como em tantas outras situações. “All those beautiful boys” te encantam até certo ponto, já em outros te escandalizam, como os três da noite passada, tão quentes e tão sujos no meu imaginário. É complicado não pensar como a massa. Me sinto ‘mal-bem’ como aprendi, e continuo aprendendo. Que sorte a minha de pensar assim...

Sem título.



Ir ao cinema e sair do filme quase que aos prantos pode parecer estranho, já que as pessoas ficam te olhando com cara de assustadas. Em se tratando de uma pessoa hiper sensível isso é mais do que normal. Acontece quase sempre. Aí você continua chorando por uma meia hora, enquanto volta pra casa no táxi. Durante o caminho, vem pensando no filme que acabou de assistir e se emocionou pela sua dramaticidade extrema. E acaba pensando na sua vida, claro, como não poderia deixar de ser. Ainda mais num momento onde essa pessoa só tem pensado na vida, dia e noite. Na vida que tem, na que poderia ter, ou melhor, na que gostaria de ter. Salta do táxi, sobe sua rua um pouco escura devido a uma falta de luz em parte dela. É observado por algumas pessoas estranhas a seu ver, mas continua subindo. Ao chegar em casa é recebido por um simples “nada”. Sua mãe te olha, e não diz nada, e você para tentar ser um pouquinho simpático lhe demonstra um pequeno sorriso, que não é correspondido. Isso só aumenta sua insatisfação perante essa casa, e essa família. Tudo isso só te faz sentir que o melhor só pode ser o que você vem pensando ultimamente. Nem um “ – OI seu infeliz!” é lhe oferecido, muito menos uma pergunta do tipo “ – Como foi o cineminha?”, o que seria mais do que normal de receber numa situação dessas. E você ainda teve o cuidado de enxugar as lágrimas para que eles não vissem, pra que não ficassem preocupados ou coisa parecida. Talvez o melhor tenha sido chegar em casa ainda aos prantos, batendo a porta, chutando tudo que visse pela frente. E pensar que ainda temos uma vida pela frente, e que nossos laços são eternos...

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A noite passada.



É muito bom dançar, e ultimamente é a coisa que mais tenho feito. Balançar o quadril, as pernas, os braços, agitando-os. Pular, gritar, deslizar com a sandália no chão molhado, fazer caras e bocas, e achar que está mandando super bem. Só achar, porque quando você olha pro lado tem dois caras idiotas rindo da sua cara, caçoando de você. Aí você disfarça, fica se sentindo um merda, olha pro lado, diminui o ritmo da dança, e depois recomeça, quando eles já estão pra lá, bem longe de você. Ir pra um lugar, o mesmo de sempre, sem saber se realmente se quer ir. Chegar lá, dar de cara com as mesmas pessoas, fazendo as mesmas coisas. Pular mais, gritar mais alto, se sacudir sem pensar, não ligando pros outros nessa hora. Berrar quando toca sua música preferida, dançar loucamente nessa hora, sem se importar com quem está do seu lado, com as pessoas que passam por você esbarrando, ou em quem você esbarra. Tudo isso tem me feito muito bem, apesar dos pesares. Isso tudo me exorciza, me liberta, e tem me feito feliz pra caramba. Só que chega uma hora, no meio da noite, quando você senta pra descansar, que as coisas mudam. Passa por você o menino que você está afim, e nem te olha, e quando olha é por um segundo apenas. Você pensa na vida, na sua claro. Aí se sente sozinho, no meio daquela multidão de gente, todos aparentemente felizes por estarem ali. O tal menino passa de novo, e senta do seu lado, mas onde está a coragem para chegar e falar com ele? Falta a coragem, ME falta coragem. Pra isso e pra um monte de outras coisas, que penso nessas horas. Uns se beijando num canto, outros se agarrando em outro canto, seu amigo que você encontrou lá dançando com seus outros amigos, e você se vê sozinho, de novo. Aliás, sempre. É difícil não pertencer a um grupo restrito, principalmente àquele. Eles parecem ser tão fechados, um pouco preconceituosos, e a meu ver, se bastam. Parece que não precisam se relacionar com outro tipo de gente, porque eles se bastam, simples assim. E quando o menino que você está afim pertence a esse seleto grupo? Torna-se mais difícil ainda. Mais: quando seu amigo, aquele que você encontrou lá, TAMBÉM pertence a esse grupinho? Aí só te resta a solidão, já que você, felizmente ou infelizmente, não pertence a esse grupo. Tudo isso forma uma série de questões na sua cabeça, e aí você vem aqui escrever, porque te faz bem, te liberta. Ou melhor, ME liberta. As minhas noites ultimamente tem sido difíceis, quase sempre. E tem servido pra eu aprender que a noite é obscura, negra, perigosa às vezes. Que preciso tomar cuidado, senão ela me engole, e eu não vejo mais o dia nascer.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A realidade.



“Rosa, só pássaros”, e eu me sentindo só. Tranqüilo, bem, porém sozinho. Ó vida que eu tenho. De que me adianta o pouco dinheiro, porém dinheiro, roupas caras, coisas materiais, inúmeras coisas, restaurantes bons, boate todo fim de semana, compras e mais compras, terapia, e outras coisas mais, se eu não tenho um amor? Até entendo porque não o tenha, mas é dificílimo de aceitar. Mas o que me falta pra receber um amor? Acho que amadurecer mais, mudar o físico, acredito eu, ter calma e muita paciência. Fico pensando se “ele” também está sendo preparado, se ele está me esperando, ansioso, pelo grande dia. Escutaremos sininhos tocando lá longe, trocaremos olhares apaixonados, e já começo a sonhar. Mas a outra face de mim já me avisa que a realidade é e pode ser bem diferente. Já trato esse assunto de forma diferente, já consigo brincar com a situação, sofro, porém mais tranqüilo. Posso até chorar, mas o choro é diferente também.
A realidade é que estou me cansando dessa vida banal que eu e (...) levamos. Digo que estou me cansando e não mudo, continuo indo pra boate, procurando pessoas do mesmo gênero, pensando da mesma forma, etc. Mas sinto cheiro de mudança, e boa.
Louco por muitos eu já fui, e ainda sou um pouquinho, por outros, mas na fase de mudanças isso pode e deve mudar. (...) Sinto que às vezes eu acabo vivendo embaixo, igualmente a eles. Sinto que sou influenciado, já que a minha referência são eles.
Aí acabo me sentindo vazio, e fico querendo preencher com essas baixezas. Mas isso vai mudar.

sábado, 31 de janeiro de 2009

A visita ao Opô Afonjá.



Viajei à Salvador destinado a conhecer determinados lugares, e um deles era o Opô Afonjá. Minha vontade inicialmente era passar o dia lá, batendo papo com os mais velhos, colhendo informações, tirando fotos, respirando a atmosfera daquele lugar abençoado. Numa terça-feira de sol, dia 20 de janeiro de 2009, lá ia eu, as oito da manhã em direção ao Cabula, mais precisamente ao bairro de São Gonçalo do Retiro. Cheguei lá de carro, acompanhado de dois tios e um primo. Entramos na tal Rua de São Gonçalo do Retiro e começamos a procurar o lugar. Quando avistamos uma plaquinha linda de azulejos azuis e brancos escrito o número 557 já era tarde, havíamos passado direto. Mas nada mal, era só voltar, e foi o que fizemos. Entramos com o carro no terreiro, após dar um alô pro guarda que se encontrava na porta. Minha felicidade era tamanha em estar naquele lugar tão lindo, tal e qual eu via nas fotos de Verger. Saltamos do carro, e eu já com a máquina preparada. Mal sabia que ia sair dali com somente cinco ou seis fotos tiradas. Fomos andando pelo chão batido, de barro puro, em direção à Casa de Xangô, que era a primeira por onde passaríamos. Era uma casa toda revestida de pedras grandes, dispostas de forma irregular. Haviam umas pilastras na cor vermelha, a cor do orixá. Perto de uma das portas havia ainda uma imagem simbólica de Xangô em tamanho real de uma pessoa, linda por sinal. O teto da varanda era cheio de bandeirinhas, típicas de um terreiro de candomblé. Nas duas janelas havia uma inscrição que dizia o seguinte: “Opô Afonjá 1910”, naturalmente, suponho eu, o ano da abertura do terreiro. Ao lado de uma das portas, que estava fechada, escrito estava o nome do dono da casa, em pedras, parecia, meio envelhecidas. Nas duas portas da casa havia ainda o mariwó, folha do dendezeiro, que segundo li em algum lugar, protege contra os possíveis eguns que possam se aproximar. Pela lateral veio uma mulher, baixa, de cabelos enrolados, falar conosco. Meu tio então me intercedeu, e disse que queríamos visitar o lugar, que eu gostaria muito de conhecer as pessoas, de conversar com elas. Eu logo disse o mesmo. Para meu espanto, fomos recebidos muito cordialmente por essa mulher, que mais tarde saberia seu nome: Carmem. Ela então nos perguntou se já havíamos falado com Mãe Stella, e eu lhe disse que não. Nos disse pra conhecermos o museu que havia mais pra trás, e a lojinha. Fui então na lojinha, começamos a conversar um pouco, e lhe disse que havia lido recentemente o livro de Mãe Senhora. Para meu espanto, ela me disse que havia ainda o livro de Mãe Aninha, e que estava à venda lá. Claro, tratei de comprar meu exemplar. Depois nos encaminhamos ao museu, que ficava a uns cinqüenta metros dali. Após perguntar qual seria a porta certa, chamei por alguém e logo fui recebido também muito cordialmente por uma mulher, negra, de cabelos presos. Ela então abriu as portas do lugar, e nos convidou a entrar. Começamos a conversar, e fui informado que poderia colocar meus pertences num cabideiro que havia na entrada, para que assim pudéssemos conhecer o museu mais livremente. Perguntei-lhe se poderia fotografar, e ela me disse que não, para minha pequena tristeza. Porém, respeitei a ordem. Começamos a visita pelos tronos das mães-de-santo anteriores, a começar por Mãe Aninha. Seu trono era de madeira escura, como ela disse, com símbolos católicos inscritos no encosto. Depois passamos para o trono de Mãe Senhora. Este já era de vime claro, com estofado estampado, lindíssimo por sinal. Tal e qual via nas fotos de Verger. Logo após vimos o trono de sua sucessora, que não me recordo muito bem como era. Então a mulher, que até hoje não sei seu nome, foi mostrando o restante das peças, entre elas objetos rituais de todas as mães-de-santo do terreiro, suas roupas, a de seus orixás, quando vinham em terra para dançar, e outras coisas mais. Minha emoção era enorme. Vimos os três atabaques da época de Mãe Aninha, todos brancos, postos em bancos, para não entrar em contato com o chão. Entramos na sala azul, a de Oxóssi, segundo ela, que era um lugar especial para Mãe Stella. Lá haviam uns inscritos, roupas, fotos, livros publicados por Mãe Stela, e objetos rituais. A visita acabou, e ainda ficamos conversando um pouco. Ela falava de um modo muito rápido, e acabei perdendo algumas informações. Então agradeci muito a sua simpatia, e saímos do museu. Não sei por que, talvez por estar tão emocionado, fomos nos encaminhando pra ir embora, e eu não tirei mais fotos, foram poucas ao todo. Passamos por Carmem, e ela me perguntou quando iria embora. A respondi, e fui informado que no dia seguinte seria realizado um amalá pra Xangô, o patrono da Casa. Dei quase certeza que iria, afinal seria uma oportunidade única. Fomos pra casa então, e tinha ganhado o dia, me arrisco a falar, a viagem! Fui matutando quem poderia ir comigo no dia seguinte, só que não havia ninguém para ir. Pensei, pensei, e perdendo o medo, resolvi ir sozinho. No dia seguinte então, acordei novamente às sete da manhã, e parti rumo a roça de São Gonçalo. Mil pensamentos, do que poderia acontecer lá dentro, um misto de medo e emoção tremenda me preenchia. Chegamos no terreiro, eu e meu tio, e ele foi embora. Fiquei lá sozinho então. Fui me encaminhando para Casa de Xangô, e perguntei a um senhor de meia idade, negro, filho de santo da casa, ou se tem outro cargo não sei, onde seria o tal amalá. Fui respondido que seria ali mesmo, na Sua Casa, e que já poderia entrar. Fui me aproximando da casa, e chegando a porta percebi que já havia uma movimentação intensa de filhos e filhas de santo preparando tudo, e que lá dentro já esperavam algumas pessoas, que seriam atendidas por Mãe Stela. A sala da Casa de Xangô era relativamente pequena, com um sofá vermelho, outra poltrona vermelha, umas cadeiras de plástico branco, um suporte de madeira com uns vasos de cerâmica. Nas paredes, pendurados, alguns quadros com fotos das mães de santo anteriores, com destaque para um grande quadro com a foto de Mãe Aninha. No teto, uma lâmpada branca, fria. Prostrei-me perto da porta, quase no meio do caminho, mas preferi ficar ali dentro, pra poder ver de perto tudo que acontecia. Eu só observava aquilo tudo, encantado. Uma filha de santo, vestida como tal, organizava a ordem de entrada no outro cômodo onde se encontrava Mãe Stella. Achei curioso seu modo de se dirigir às pessoas. Ela andava de forma muito contida, de cabeça baixa, de modo tranqüilo, bem devagar. De vez em quando ia a cada uma das pessoas presentes e perguntava se a pessoa em questão estava esperando a sua vez para a consulta ou se havia ido para o amalá. Ela então veio até mim, me perguntou se eu estava esperando minha vez do jogo, e eu lhe disse que não, que só havia ido para assistir o amalá. Antes disso, enquanto estava em pé ao lado da porta, uma moça, aparentemente de uns 29 anos veio puxar assunto comigo. Perguntou-me se eu fazia teatro, lhe disse que sim. E ela perguntou: “De rua?”, respondi que não. Então começamos a conversar, lhe perguntei o que aconteceria no tal amalá, ela foi me explicando, e ficamos batendo papo durante um tempinho. Depois uma filha de santo da casa me cedeu uma cadeira de plástico branco, e então fui me sentar, do outro lado da sala, perto da porta da cozinha. Atrás de mim havia um cabideiro, que ninguém chegou a usar.
Estava eu a observar aquela movimentação intensa, quando de repente ouço um barulho estranho, como se fosse um gato, bem manso, chorando. Um choro, de algo ou alguém, parecia. Logo imaginei que seria alguém incorporando um orixá. Mais ou menos um minuto depois passa por mim uma jovem mulher, com um pano da costa amarelo amarrado no peito, incorporada de Oxum. Ela estava com os pés descalços, com as mãos viradas pra trás, e de olhos fechados. Todos na sala levantaram as mãos, e a saudaram: Ora ieie ô. Eu fiz o mesmo, mentalmente, com vergonha de ser visto. Ela, ao passar pela porta, se virou, para passar de costas, e por cinco segundos gelei, pensando que o orixá presente fosse me abraçar. Ela então se encaminhou para a porta do altar, se não me engano. Acho que saudou Xangô, e depois foi para a porta de saída, se virou novamente, e saiu. Criou-se uma movimentação maior lá dentro, e todos se perguntavam quem iria despachar o orixá. Ouvi uma filha de santo, aparentemente antiga, falando que aquilo não era responsabilidade dela, e que não ia fazer nada, pois estava sem paciência. Não entendi muito bem, mas continuei observando. O pequeno stresse passou, e todos na sala voltaram a conversar normalmente. Logo a porta da outra sala se abriu, um ser iluminado apareceu sob a porta. Era Mãe Stella, linda, de saia rodada branca, e camisa larga azul clarinho. Cabelos destampados, e brancos devido à idade. Ela saiu da salinha onde se encontrava, e todos automaticamente na sala se acomodaram nas cadeiras e sofás, pararam de conversar e se prostraram em silêncio, em sinal de respeito a grande mãe. Rapidamente uma mulher que esperava na sala maior levantou-se e foi lhe pedir a benção, beijando-lhe a mão. Mãe Stella lhe disse algo, e a cumprimentou, e pelo que eu entendi, a tal moça era parente do rapaz que acabara de se consultar com ela. Eles sorriram um pouco, Mãe Stella também, trocaram algumas palavras, e a grande mãe se dirigiu à cozinha, acho que para beber um copo d’água e descansar um pouco. Umas outras pessoas então, percebendo a saída de Mãe Stella foram até a cozinha cumprimentá-la. À toda hora, filhos e filhas-de-santo iam até a porta onde estava Mãe Stella, para pedir-lhe a benção, ou lhe dar um recado, pedir um conselho, mas eram sempre embarreirados pela “secretária” cabisbaixa. Mãe Stella voltou para a salinha, para dar prosseguimento as consultas e logo depois saiu, dizendo que era chegada a hora de começar o amalá. Criou-se então uma movimentação intensa de pessoas saindo e entrando da casa, na cozinha, no tal quartinho. Vi que as pessoas que estavam esperando foram se encaminhando para a outra salinha e fui atrás. Logo depois umas filhas de santo passaram com o caruru e as comidas nos ombros, em potes de madeira, típicos de candomblé. Perguntei então a amiga que fiz lá o que faríamos, e fui informado para segui-la. E assim fiz. Entrei para a outra salinha, e me coloquei no final da fila que automaticamente se formou, atrás da minha conhecida. As pessoas foram entrando, entrando, entupindo a sala pequena. As comidas foram colocadas no altar de Xangô, e alguém, que não consegui enxergar quem, começou a puxar um cântico em yorubá e a bater palmas leves. Todos a seguiram cantando e batendo as palmas leves. Eu só batia as palmas, já que não conhecia o tal cântico. O primeiro cântico acabou, e foi puxado outro. Esse outro havia sido um dos primeiros cânticos que conheci quando me interessei por candomblé. Pra minha alegria, eu podia cantar com eles, os acompanhando. Minha emoção era tremenda. Estava em êxtase. A tudo observava com atenção. Claro, muita coisa eu perdi, pois estava posicionado no finalzinho da fila, no fundo da sala. Foi me dando um medo do que poderia acontecer, afinal estava sozinho e não conhecia ninguém ali, a não ser a minha amiga que acabara de conhecer não fazia nem uma hora. As pessoas foram incorporando diversos orixás, e cada um era saudado pelos filhos e filhas de santo. Veio Xangô, Iemanjá, Iansã, dançando como sempre imitei e sonhei em ver, Oxum, se não me engano, e algum outro que não soube reconhecer. Era um lindo espetáculo. Eu estava emocionado. Os orixás dançaram um pouco, Iansã ia lá fora dar seu ilá, lindo por sinal, e todos vibravam com a energia deles. Depois eles foram saindo, às vezes voltavam, já com panos amarrados no peito e na cabeça, e logo sumiram. Apenas Iansã era ouvida, lá fora. A fila foi andando, e aos poucos as pessoas foram deitando no chão, dando o dobale e o iká, saudando Xangô, saudando Mãe Stella e a uma senhora curiosa que se encontrava ao lado da grande mãe. A moça do museu chegou, eu a cutuquei, e ela fez um gesto carinhoso falando comigo. Minha vez estava chegando, e eu nervoso com o que poderia acontecer dali pra frente, resolvi cutucar minha amiga e lhe perguntar o que fazer. Ela então me disse para observá-la e repetir o que fizesse. Ela então foi lá, o saudou, saudou a grande mãe, me fez um sinal e saiu. Os sapatos eu havia deixado lá fora, e a bolsa deixei em cima de um baú, com um nó para que não abrisse. Minha vez chegou, e eu perguntei a uma antiga filha de santo da casa se poderia ir. Dei uns passos, me prostrei em frente ao altar, me deitei no chão, coloquei as mãos pra trás, encostei a testa no chão, e o saudei, em silêncio, só falando mentalmente: Kawô Kabiesile! Minha emoção era tremenda, que pude sentir sua força, eu acho. Sei que senti uma coisa, que não sei explicar, que nunca havia sentido. Uma força no peito, na cabeça, uma sensação boa, que me lavou os males. Enquanto me deitava, ouvi uma pessoa atrás de mim falar o seguinte, para a minha vergonha: “É a primeira vez que ele vem né?!”. Franzi a testa no momento, mas continuei. Algumas pessoas colocavam um dinheiro, pouco, num pote de madeira, mas eu não coloquei. Outras se prostravam pra frente, em direção ao altar, para o lado esquerdo, e depois para o direito. Eu, na minha humilde ignorância apenas me prostrei para frente. Depois disso, me virei, e fiz o mesmo gesto, me deitando, em frente à Mãe Stella. Peguei sua mão, a beijei, e ela me disse algo do tipo: “Deus te abençoe”. Foi o que eu entendi. Mas a achei um pouco desinteressada naquilo, disse isso a mim enquanto falava com outra pessoa do seu lado, não dando muita importância àquilo que estava fazendo. Mas enfim, me senti ainda honrado de ter podido participar daquele ritual tão lindo. Então, voltei para a fila, peguei minha bolsa, e saí, de cabeça baixa. Calcei minhas sandálias, já fora da sala pequena. As pessoas na sala maior já comiam o caruru, a comida oferecida ao orixá. Dirigi-me a minha amiga, a que fiz lá, e lhe perguntei se eu poderia ir embora, já que não gosto de quiabo, o principal ingrediente do caruru. Ela me perguntou se eu não ficaria pro caruru, lhe disse que não, ela me disse que gostaria de comer, mas que se eu quisesse mesmo ir que poderia. Agradeci-lhe por toda a ajuda, e fui saindo da sala, maravilhado com tudo que havia acontecido. Liguei pro meu tio, para que ele fosse me buscar, e me dirigi à saída. Fiquei esperando durante uma meia hora. E enquanto esperava, uma sede me bateu. Vi que algumas pessoas estavam comendo sacolés de frutas, e pra minha alegria, estavam a venda. Fui lá comprar um, e aproveitei e falei com a Carmem, que estava na porta da lojinha. A agradeci também pela recepção, e falei que estava completamente encantado, adorando tudo. Ela me falou do calendário das festas, e peguei o telefone do terreiro, para saber com mais detalhes, as datas e tudo mais, caso quisesse voltar um dia. Encaminhei-me então em direção a porta de saída, e tirei a ultima foto, de longe, admirando a beleza do lugar. Contei para todo mundo minha experiência, e fui pra casa maravilhado, o que me fez perder certos medos, e ter um dia lindo, num outro lugar tão lindo quanto. Comecei o ano abençoado por Xangô e por Mãe Stella, e agradeço muito a esse fato.
Foi um dia incrível, uma experiência fabulosa, que me fez admirar ainda mais essa linda religião. Salve Xangô, o patrono da Casa. Salve o Opô Afonjá, lugar abençoado. Salve Mãe Stella, ser de luz. E salve esse dia, onde fui muito feliz.

Mais um pedaço de mim.



Tenho o hábito de escrever palavras soltas no ar, e por sinal, a palavra que eu mais escrevo é “amor”. Por coincidência ou não, a coisa que eu mais sinto falta na vida é de um amor. Um amor verdadeiro, recíproco, o que é importante. Ouço músicas consideradas exóticas pra uns. E isso faz com que eu me sinta só, pois não conheço absolutamente ninguém que goste das mesmas músicas que eu. O país que eu mais sonho em ir ninguém conhece, ninguém nunca ouviu falar. Minha cor preferida é marrom, e não conheço ninguém que goste também dessa cor. Odeio cabelo liso, sou contra “escovas” do momento, contra o padrão de beleza estabelecido pela sociedade. Acho que penso assim por não fazer parte dele, e gostar de ser assim. Porém em partes. Não gosto de coxas grossas, nem pra homens nem pra mulheres. Mulheres de bundão e peitão também nem pensar.
Antipático, exótico, anormal, doente, louco, esses são alguns dos estigmas que me pertencem. Se eu sou ou não, isso não importa a ninguém. Sei que sou único. Não é porque a massa gosta de “A” que vou gostar também. Devo nadar contra a corrente. E prefiro ser assim, diferente, do que ser mais um perdido na multidão medíocre.

O que aconteceu foi intenso.



Foi intenso. Eu encostei meus lábios nos dele, nossas línguas se roçaram uma na outra, e a sensação foi de puro prazer. Eu lambi seus peitos, lambi sua barriga, olhava e desejava seu corpo inteiro. Depois fui descendo, seu umbigo. Desci mais um pouco, e encontrei seu membro ereto, como pedra, fervendo, vermelho cor de sangue. Era puro sangue. Éramos amigos, e nos beijávamos muito. Lambi aquele negócio por inteiro, e ouvi gemidos vindos dele. Isso tudo aconteceu e eu estava de olhos fechados. De repente os abri, estava ofegante e molhado de suor. Pra minha total infelicidade, aquilo não tinha passado de um sonho, mais um. Sonhos sempre.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Um pedaço de mim.



Antes de dormir eu canto, sozinho, olhando pro nada. Também recito poemas, quase sempre os mesmos, os que estão na minha cabeça. Sorrio, às vezes choro, falo sozinho, converso com Deus, comigo mesmo. Me dou broncas, esporros, elogios, puxões de orelha. Olho meu corpo, analiso, às vezes me masturbo. Ouço música o dia todo. Pinto e escrevo quando tenho inspiração. Fico observando meu quarto, minhas coisas. Leio muito, as vezes o mesmo livro varias vezes. Durmo do lado dos meus livros, gosto de sentir a presença deles, o cheiro deles. Sempre pego um que já li e folheio, leio trechos de novo. Acendo incensos o dia todo, e sempre tem uma fumaça restante pairando no meu quarto. Penso muito na vida, e acho que a vida pensa em mim. Acredito em Deus, que exista uma força maior que comanda tudo isso aqui. Tenho afeição pelos orixás e por Nossa Senhora Aparecida. Tenho muitos medos. Medo de morrer, da solidão, de ficar sozinho, de escuro, de barata, de rato tenho pavor. Medo ainda de não fazer mais terapia, de cair de um lugar alto, de altura, de dormir.
Esse é um pedaço de mim.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Enfim, a viagem.



Enfim é chegado o dia da tão esperada viagem. Realizarei sonhos, como o de percorrer os caminhos por onde andou pai Fatumbí, se possível conhecer Mãe Stella, Mãe Carmem, conhecer o Opô Afonjá, o Gantois, a Casa Branca, as vielas da "boa terra", a Sua casa, e tantos outros lugares abençoados. E viajando com minha irmã, o que já representa um belo início de amizade e aproximação. Animado, ansioso, nervoso, esperançoso é tudo que estou!
À benção Bahia, aqui começa minha viagem!

sábado, 3 de janeiro de 2009

O tal no Ano Novo.



São 0:22 do dia 1 de janeiro de 2009, e estou aqui escrevendo. Ao invés de estar comemorando com a família, com os amigos, seja na praia, em casa ou em qualquer lugar, estou aqui, chorando e escrevendo. Choro por sentir ódio no meu coração, por ser tão amargo com certas pessoas, por não perdoá-las por certos erros. Choro por não conseguir confraternizar com minha família, por não ter meus amigos por perto. Por ter quase certeza que esse ano tudo vai continuar da mesma forma, e tudo vai depender de uma única pessoa: eu mesmo. Quero chorar, mas não me saem mais lágrimas dos meus olhos. Mas por dentro eu choro. Por querer um amor, e não encontrar. Por parecer infeliz, e achar que sou infeliz. Por ter tudo e não usufruir e dar valor à quase nada. Por ter vergonha de demonstrar minha felicidade à minha família. Por não ter um companheiro. Pelo fato dos meus amigos ainda não terem ligado, e achar que eles não vão ligar mesmo, já que estão lá, com seus amigos, festejando o ano que chega. Choro por não saber o porquê do meu choro, em certos momentos. Choro por à essa hora estar aqui escrevendo, ao invés de estar com minha família, com os amigos. Choro por me sentir tão só. Choro por enxergar que eles só dão carinho pro dos outros, e pros deles não. Por enxergar certas coisas, e não ter como mudá-las. Choro porque preciso chorar. Porque poderia muito bem ser feliz com o que tenho, e no entanto não sou. Choro por querer ficar sozinho, recolhido, em pleno Ano Novo, data onde as pessoas costumam se reunir. Choro porque quero também. Apenas choro e desejo ficar sozinho, hoje.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Duas visitas inesperadas.



Hoje ele nos visitou. Fazia um bom tempo que ele não vinha. Eu lhe dei seu chapéu, o que ele gosta, e sua chupeta, que estava guardada com a menina dele. Foi sua alegria, pulou e gritou. Ele veio até mim, e me disse que tinha vindo pra me proteger nesse ano que chega. Me deu 4 balas, e pediu que eu fizesse um pedido para cada uma. Depois me disse que quando quisesse alguma coisa, quando precisasse era só pensar nele, três vezes, que ele iria me ajudar. E assim será feito. Depois ele anunciou sua partida e se foi, pro imaginário, pro além, pro mundo dele. Salve Pedrinho!
Dali a pouco, vem Ela! Salve! Ela chegou em mim e disse que eu era a atração da festa hoje. Eu a perguntei se podia ir naqueles lugares sem problemas. Sua resposta foi: "Pode, mas muito cuidado". Pediu uma rosa vermelha bem bonita, e cerveja, que eu pusesse no seu lugar. Dona Maria Padilha da Estrada.

Prefiro ficar sozinho.



É dia primeiro de janeiro do novo ano, e à essa altura prefiro ficar sozinho no meu quarto, do que ficar "confraternizando" com certas pessoas. Acendi meu melhor incenso, o mais cheiroso, e o mais caro, coloquei minhas músicas atualmente preferidas, terminei de ler o restinho do livro da Danuza, e aqui estou, escrevendo de novo. Gosto de ficar imerso na fumaça, gosto de ficar observando a fumaça que sai do incenso, principalmente quando ela é abundante, como nesse que acendi há pouco. Hoje fomos colocar flores na praia, como de costume. Há anos que temos esse hábito, de oferecer um agrado à senhora dos mares profundos. Fiz vários pedidos, entre eles muita sorte, um pouco de dinheiro, sorte na 'profissão', que as coisas melhorem aqui em casa, que nossa relação fique mais afetuosa, e o mais importante deles: que ela me traga um amor, mas um amor daqueles! Um amor que me preencha, que me deixe feliz, que me faça feliz, e que me preparem pra receber esse amor também, o que é importante. Só pedi coisas pra mim, os outros que peçam pra eles. Enfeitei meu quarto com uma flor que desconheço o nome, linda por sinal. Um arranjo simples, apenas um vasinho de vidro branco, um pouco d'água e elas, no total de cinco. Só.
Arrumei minha mesa do computador, minha 'mesa' de cabeceira, e minha cesta africana. Continuei a reler o livro, depois tomei um banho, e me arrumei. Coloquei roupas novas, vestindo amarelo, verde, com um chinelo cor de laranja. Bem colorido, como quero que seja esse ano pra mim. Desci, cumprimentei minhas avós, e sentei. De lá só saí pra ir ao banheiro, e pra comer e beber. Nada falei, a não ser um papo rápido e baixo com as avós. Tive de aturar aquele povo insuportável, e sua prole. Mas aguentei até meia-noite. Deu a hora, estouramos o champagne, cumprimentei levemente as pessoas, inclusive os insuportáveis, e subi discretamente. Vim ao meu quarto, e comecei a chorar, por tudo aquilo. Fiz alguns telefonemas, porém sem sucesso em todos. Não consegui falar com ninguém, e todos que falaram que iam ligar não ligaram. Nenhum amigo me ligou. Depois dei uma descida, vi que o ar continuava ruim e tornei a subir, e agora estou aqui, imerso na fumaça cheirosa, e trancado no porto seguro, ouvindo música boa, porque a de lá de baixo era igualmente insurpotável. Triste, assim me sinto, de não conseguir confraternizar com minha família a chegada do novo ano. Mas vai melhorar, ainda tenho esperanças. Como dizem, elas são as últimas a morrer.
Minha única opção para sair de casa é aquele lugar que sempre freqüento. Mas hoje não estou com um pingo de vontade de dar as caras por lá. Não quero me "sujar", e nem me irritar com aquelas pessoas. Daqui a pouco devo dormir, e começar a viver as primeiras horas de 2009.
Esse foi meu 'Ano Novo'. Super legal.