domingo, 11 de outubro de 2009

Penso nele.



Já é madrugada, e o sono não me vem. Penso nele, ou melhor, neles.
Depois de horas de papo com o poço encantado, parece que a coragem toma conta do meu corpo e da minha cabeça. Mas o meu lado “normal” logo chega dizendo que eu não sou capaz de fazer aquilo que desejo. A quem dar razão? Em quem acreditar? O que fazer? Não sei. Ou melhor, até sei, mas me falta, como sempre, a coragem. Fato recorrente.
É começo de noite, estou me arrumando para encontrar Ele, aquele que eu tenho pensado. Coloco uma roupa que me sinto bem, confortável. Um sapato fechado, já que está chovendo um pouco. Um cachecol, e borrifo em mim o perfume que Ele gosta. Tenho que correr, porque Ele está lá embaixo me esperando, e debaixo de chuva, tadinho. Não há muitas pessoas na rua, por causa da chuva. Eu saio do elevador, Ele está ali na frente me olhando de longe. Vou ao seu encontro, abro o portão do prédio, e Ele vem me abraçar. Ficamos abraçados, sentindo o cheiro do outro, a respiração ansiosa de nos ver, então Ele me dá um beijo na boca, leve. Pegamos o carro dele, e partimos rumo a um bistrô simpático e pequeno num bairro igualmente simpático e calmo. No carro, Ele me elogia, diz que estou cheiroso, bonito, bem arrumado, e que estava esperando ansiosamente para me encontrar. Chegamos no tal lugar, sentamos na mesa, bem reservada, de modo que possamos trocar carinhos sem sermos percebidos.
Comemos, bebemos, conversamos, trocamos carícias quase apaixonadas, pedimos a conta, e partimos para minha casa. Ele estaciona o carro ali perto, subimos no elevador, e chegamos ao meu apartamento. Nos beijamos intensamente, calorosamente, como dois animais loucos por prazer. Insanos. Ele beija meu pescoço, eu faço o mesmo. Ele me deita na cama, tira minha roupa, tira a Dele, e fazemos amor como dois apaixonados. É intenso, puro, verdadeiro. É só.


Guardo essa sensação, e paro aqui.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Qualquer outra espécie de dor.



“(...)
Fosse amor ou desamor
Ou qualquer outra espécie de dor
Eu quero mais ser imortal,
Quero ser o meu futuro ancestral
Quero mais tabacaria,
Mais pessoa, mais Maria,

Mais vinho, mais poesia”.

Não gosto de vinho. Não fumo. Mas queria que minha vida fosse recheada dessas coisas, no sentido mais puro que isso possa parecer. Não desejo passar a fumar, ou a tomar vinho, mas estar, fazer acontecer situações onde se possa tomar um vinho em paz, ou fumar um cigarrinho em paz, conversando com seus amigos, no seu apartamentinho minúsculo, porém SEU, com a sua cara. Uma boa música tocando, um bom incenso aceso, livros espalhados pela sala. Pra começar, estamos na sala. Eu, o poço, e alguns que imaginei. Sei bem quem são. Então, eu falo uma poesia de Dona Sophia, outro rebate com Pessoa, um terceiro fala a letra de uma canção, um quarto dá uma forte gargalhada, e serve as taças vazias com mais um pouco de vinho, tinto. Eu, fico na água, em temperatura natural. O disco acabou, me levanto, e coloco pra tocar um disco antigo, da minha querida Dolores. Primeiros acordes, e...”hoje, eu quero a rosa mais linda que houver, e a primeira estrela que vier, para enfeitar a noite do meu bem”. Sentimos o primeiro minuto da canção, belíssima. O telefone tocou, um instante. (era seu namorado, avisando que está chegando com uns queijinhos) Ele sabe que você ama queijo. Estão completamente apaixonados um pelo outro. Já estão juntos há quatro meses. Pode parecer pouco, mas pra nós, intensos, já é um longo período. A luz está baixa, é noite de lua nova, abençoando os namorados. Ela nos ilumina, e então a reverenciamos, “Nossa Senhora do Silêncio”. O queijo que ele trouxe está uma delícia, todos partilham disso. De repente o poço se levanta num rompante, e começa a falar aquele poema que você ama, “Passagem das horas”, e você delira. Falam juntos, riem, estão felizes, são felizes. Se amam também. Aquela energia boa toma conta da sala, como uma droga quando faz seu efeito. Todos se drogam, só que de amor, de intensidade, de luz, de paixão ardente, de encantamento. Riem, falam, gargalham, se abraçam, se beijam, transcendem. São únicos em sua beleza, e só.

Não quero cortar esse momento, porém paro aqui, preenchido por essa sensação. Preciso disso, vou ter isso. Repito, vou ter isso.