quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Aridez.


A madrugada me consome como tem feito nos dois últimos meses.
Lá fora um calor de verão que faz as pessoas se despirem quase que por completo.

Aqui dentro do meu quarto, um calor humano que me faz querer estar coberto com duas mantas.
Fumaça no ar, me acolhendo na última madrugada do ano.
Minha insônia querida de todos os dias cisma em não me deixar.
Com ela não me deixando, crio meu mundo paralelo dentro de um cômodo ocupado por quinquilharias do passado, meu, e de outros.
Parece que a única coisa viva que habita esse quarto é a planta que meus pais compraram, e que está aqui, como todos os anos fazemos.
Eu, uma folha seca, morta e amarelada, como a manta que me cobre.
A tristeza de pré-constatar que passarei a noite do Ano Novo sozinho me consome, assim como a brasa do incenso consome o pó de que é feito.
Os vasos de barro que ganhei há tempos ainda esperam seu canto; o copo de água sagrada ainda espera há mais de uma semana seu local de despejo; a bagunça generalizada ainda espera quem a desfaça.
A única coisa nova, límpida e branca é a manta nova que cobre a cama, porque todo o resto é amarelado, velho, seco e árido.

Faltam pouco menos de 24 horas pro novo ano.
Daqui a poucas horas, o mundo festejará a virada, e eu, provavelmente ‘sozinho’ darei as benditas boas-vindas à 2010.